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Crítica – Canção das Filhas das Águas | Sobre buracos negros ou A instabilidade é componente elementar

By 4 Parede
17 de novembro de 2020
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Por Lorenna Rocha
Licencianda em História (UFPE), pesquisadora e crítica cultural

Caos. Um rosto parcialmente revelado se destaca em meio a um fundo preto. Sem corpo, o mergulho na escuridão cria a sensação de vazio, que se acentua no discurso proferido acerca das formas iniciais de vida no Universo, por meio dessa existência não-identificada. Na tela, a centralidade do órgão mais importante – a boca – materializa o desenho de um buraco negro. A gestualidade de sua fala ganha intensidade através de frases que são articuladas com tom professoral. Desdenhando das formas de vida, sobretudo as lidas como humanas, o rosto se duplica na mesma pretura: um processo de mitose das células; um jogo de atrito entre as imagens que performam diferentes estados de presença. Em Canção das Filhas das Águas (2020), moléculas tornam-se criaturas de contornos ameaçadores.

O agrupamento das águas com os sedimentos mais simples da explosão cósmica possibilitou a materialização da vida humana. Laís Machado entra em cena, na tela. Se, antes, suas aparições fragmentadas davam vigor às partículas elementares, assumir sua forma humana elabora na imagem seu processo de autodecomposição, que recusa qualquer formato pacífico e contemplativo para que ele aconteça. Como lançar-se nos componentes que são constituintes de nossa própria carne? E, por que retornar a eles? O buraco negro, esse campo de força, é desenhado em seu próprio corpo. Nesse corpo-carne-matéria, instabilidade é componente elementar.

A câmera em close acompanha a performer no seu processo de ingestão de um pó marrom, por intermédio de um garfo prata. No sutil contraste de cores, uma massa cósmica, de água e terra, forma-se na boca da performer. Ganhando outros contornos, o buraco negro consubstancia-se na tela, agora sobre um fundo branco. A explosão e o caos ocorrem dentro de Laís. Ao exibir seus dentes, língua e terra, o gesto de reintegração à matéria se cria a partir da conexão com elementos que são mais-que-humanos. Da terra, vibra o som de um coração pulsando lentamente. Do corpo, cria-se (ou reencena-se?) o colapso. O que nós sabemos sobre buracos negros?

Cascavilhar a própria carne, a própria casa, se dá na recusa. Aliás, é movimento intragável. Da terra que alimenta e também produz a fome, porque também é componente de sua própria matéria, digeri-la, comê-la, é tudo, menos fácil. Reconhecer os ingredientes de si mesma traça a rota para as somas de explosão. De um corpo onde nada escapa, o buraco negro se materializa em combustão terrosa, onde a instabilidade é massa produzida pela compressão dos corpos, efeito criado pela Maquinaria, que é a arquitetura jurídico-econômica colonial e nacional do mundo como conhecemos. Nesse caos, é possível conceber criaturas de contornos ameaçadores. 

Da rigidez e do gosto sólido da Maquinaria, o amálgama do caos e da instabilidade possibilita a transfiguração. A figura do buraco negro se modifica novamente sobre a tela. A boca torna-se vagina. A câmera em close no órgão genital dá início ao nascimento de outra criatura. A nascença é intercalada por imagens de ombros, costas e pescoço de um corpo meio pássaro, meio ser não-identificado, que se destaca em contraste com a pretura do quadro, remontando a sensação de vazio. A performance se adensa com batidas que se alternam e são rasgadas pelo canto de aves.

Da explosão é possível criar um novo começo? Um parto inicia-se. Ao retroceder a filmagem da concepção por alguns segundos, a imagem marca a violência do próprio ato, enquanto retorna a criatura para dentro do corpo que a expele e lhe possibilita vida. A Maquinaria cria aves rasgadeiras, de ações mais-que-humanas, que conhecem o caos, que são frutos da violência, da exposição: são criaturas instáveis, portanto ameaçadoras.

Em meio às ruínas, é possível ver a criatura entonando seu voo, junto ao instrumento percussivo que ganha substância na banda sonora da vídeo-performance. Vemos o corpo de Laís fora do registro de ações da corporeidade humana. Desnuda e coberta por tons avermelhados, a criatura tenta se ‘desfincar’ do solo, da terra. Mais um gesto de recusa. A câmera de movimentos instáveis se aproxima e acompanha os trejeitos descompassados de um corpo que possui olhos-faróis que parecem penetrar o horizonte como tentativa de alcançar seu objetivo. Na impossibilidade, o grito é elemento para manifestar aquilo que a carne-matéria não dá conta. Os grunhidos se fundem ao som dos pássaros. Na contradição entre aquilo que fere e liberta, o fracasso também é elemento composicional?

Após o parto, o corpo de Laís encontra-se com a espacialidade de uma casa. Água no solo, água sobre sua cabeça, água num vaso de terra. Ela se banha junto a um som do piano que, em composição com a luz que atravessa a janela de sua habitação, o vazio se reconfigura e alguma sensação de calmaria ganha espaço naquele ambiente. Contemplação ou inabilidade? Para onde foram aqueles campos gravitacionais intensos? I know a lot about black holes. And you don’t know anything about me, ela disse.

Em Canção das Filhas das Águas, a deformidade, o excesso e a convulsão criam campos de força que expõem as fraturas da rigidez de um sistema que foi feito para gerar caos e que orquestra a violência. Mas a Maquinaria produz suas próprias criaturas e elas estão dispostas a redistribuí-la. Em buracos negros, nenhuma matéria escapa, nem eles mesmos. Poderia, então, haver alguma similaridade entre eles e corpos negros? Dos detritos e da liquidez da água, espera-se o caos.

Imaginem a continuidade da explosão?

TagsAfro-diaspóricoCanção das Filhas das ÁguasLaís MachadoLorenna RochaNegritudesPandemiaPlataforma ÀràkàVídeo-performance
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