Ao que nos move | Entrevista – Júlia Martins
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Imagem – Rafael Sérgio
Dentre os espetáculos do Nordeste na programação da edição 2024 do Palco Giratório, o espetáculo maranhense Maria Firmina dos Reis, uma voz além do tempo faz uma releitura sobre a vida e obra da primeira mulher a escrever um romance no Brasil, Maria Firmina dos Reis.
Em paralelo a vida de Maria Firmina, a atriz Júlia Martins traz a sua história de vida e de outras mulheres e homens pretos que se intercalam com a história de vida de Maria Firmina dos Reis. Maria Firmina é símbolo de resistência e luta contra a escravidão, seu discurso é o nosso passado, presente e futuro.
Para saber mais sobre esse processo de pesquisa e de criação, o co-editor-chefe do Quarta Parede, Márcio Andrade, conversou com a atriz e produtora Júlia Martins em torno das suas buscas a partir do encontro com a história de Maria Firmina.
Júlia, quais aspectos da vida e obra de Maria Firmina dos Reis mais te impactaram e te inspiraram a criar o espetáculo?
O que me inspirou foi a necessidade de contribuir com a difusão da vida e obra de Maria Firmina por meio do teatro. Fatos sobre a vida desta mulher, que foi a primeira a escrever um romance no Brasil, uma mulher abolicionista que lutou pelo reconhecimento da mulher no Maranhão, além de dar o protagonismo aos negros de contarem suas próprias histórias.
Como a sua história de vida e as histórias de outras mulheres e homens pretos se entrelaçam com a narrativa de Maria Firmina dos Reis no espetáculo?
A história de Maria Firmina dos Reis, é a história do povo preto. Sendo assim, o silenciamento, apagamento, o racismo sofrido durante a vida e pós vida da escritora, dialoga muito com o que eu já passei e passo por ser uma mulher preta e artista. O amor pela cultura popular do Maranhão e a vontade de levar o que fazemos artisticamente por meio daquilo que nos constrói enquanto seres, nos entrelaça com a vida e história de Firmina.
Como foi o processo de pesquisa sobre a vida e obra de Maria Firmina dos Reis? Houve alguma descoberta particularmente surpreendente ou inspiradora durante essa jornada?
Tem sido um processo difícil, por conta das poucas informações sobre Maria Firmina, ao mesmo tempo que tem sido um processo prazeroso ao redescobrir informações sobre ela, e a grandeza que essa mulher representa. O amor pela arte, pela escrita, pela cultura popular maranhense, tudo isso me move a criar mais e mais.
De que maneira o discurso e as obras de Maria Firmina dos Reis ressoam com o passado, presente e futuro, e como essa atemporalidade é explorada na peça?
Tudo que Maria Firmina escreveu está diretamente relacionado com os discursos e eventos sociais que acontecem no Brasil e no mundo. Nada mudou, apenas estamos com uma nova forma de abordagens das temáticas as quais ela enfrentava por ser uma mulher e preta em um período colonial.
Na peça, isso está visível por meio dos campos morfogenéticos explorados nas cenas. A escravidão do passado, e a do presente, a valorização da figura do educador, a importância das lutas sociais para a construção de um país melhor. A honraria ao que nos move, os nossos ancestrais, a crítica ao sistema por meio da arte, esses são alguns exemplos que podemos destacar.
Como criar e interpretar este espetáculo impactou você pessoalmente e profissionalmente?
Entender a minha potência feminina, a aceitação de ser uma pessoa preta e o quanto isso representa, a busca pelo conhecimento dos meus antepassados, isso eu desenvolvi quando conheci Maria Firmina dos Reis e reverberou nos modos de criar, pensar e ver a vida seja no pessoal ou no profissional.