Crítica – AaaaaaaH! Histórias de Arrepiar | Uma Crítica da Carochinha

Imagens – Matheus Melo
Por Gabrielle Suamy
Graduanda em Licenciatura em Teatro (UFPE)
A primeira edição do festival OUTUBRO OU NADA trás para nós um ensaio aberto do espetáculo AaaaaaaH! Histórias de Arrepiar, dirigido pela diretora Fátima Aguiar, com a atuação de Mayza Dias de Tolêdo, Johann Brehmer e Márcia Cruz, essa última sendo também a dramaturgista. Umas das primeiras coisas a me chamar atenção para esse ensaio aberto é que, das mais de 50 apresentações divulgadas para esse festival, essa era a única pensada especificamente para o público infantil. Tal iniciativa deve ser imensamente louvada e merece um retorno adequado.
O espetáculo se monta através dos contos populares do Brasil e da América Latina, aquelas histórias da Carochinha que nós tínhamos o prazer de escutar de nossas avós só para acabarmos dormindo perto delas a noite, com aquele tipo medo gostoso e tão saudável na infância. O conto escolhido para a cena apresentada foi A Menina e a Figueira, onde uma jovem menina vê o pai viúvo se casar com a vizinha, quando o pai viaja, a nova madrasta enterra a menina aos pés da figueira da casa. No conto original a menina é encontrada ainda viva pelo pai quando esse retorna de viagem, na cena apresentada para as crianças a menina não tem tanta sorte, e sai de cena acompanhada pelo Sr. Esqueleto, que, no contexto da peça, representa a morte.
Como todo processo em desenvolvimento, ainda há vários pontos a serem tratados e melhorados, em alguns momentos os atores ainda não se mostraram completamente seguros com seus personagens, o que gerou, por exemplo, comentários extremamente sinceros (e cruéis) das crianças na primeira vez que Maiza Tolêto entrou em cena, quando algumas crianças gritaram para a atriz “Não me convenceu!”. A peça, que não tem uma proposta realista, traz vários personagens fantásticos (característica que eu particularmente adoro), mas chamo atenção para um detalhe importante: o corpo. Em uma peça com tantos personagens fantásticos é fundamental um corpo ativo, que fuja das movimentações do cotidiano, mas não exagerem nisso, o que levaria, ao meu entender, em uma proposta excessivamente cômica, fugindo da proposta original da peça.
Por outro lado, me encantou a delicadeza e o carinho do grupo ao saber tratar de temas tão delicados como o abuso, a violência infantil e a morte de forma lúdica e inerente ao universo infantil, tudo isso preservando a magia, o encanto e a sabedoria dos contos e mitos da nossa infância. O que me resta é dizer o quão ansiosa estou para ver esse projeto concluído, e ver todo o potencial que eu vi nesse simples ensaio aberto posto em cena a 100%.