Sobre estar nu em cena…

José W. Junior
Bailarino, Coreógrafo e Professor de Dança
O primeiro e único trabalho que estive nu em cena foi Dark Room, da Cia Etc.
Sempre tive preconceito com relação ao nu em cena.Todos os nus que via em cena, achava desnecessário, não enxergava, não sentia, não me tocava… Considerava sempre um clichê ver o nu em cena!
Não era um preconceito relacionado ao pudor, mas sim ao conteúdo, a profundidade, aos por quês daquele nu estar em cena… Claro que algumas variáveis delimitavam essa minha visão quanto ao nu. Minha falta de maturidade, experiência…Uma outra visão de mundo…
Então, o que me moveu a estar nu em cena?
Para tentar responder, preciso voltar um pouco aos processos de construção do espetáculo DarkRoom.
Primeiro existiu uma necessidade de olhar pra si, na dança sempre tive um interesse bem latente quanto ao corpo, CORPO mesmo, anatômico, osso, carne, corpo que se move. O que parecia estar em congruência com o desejo de Marcelo Sena (Interprète-criador e Diretor do espetáculo) de saber o porque desse CORPO no mundo. O meu corpo, o seu corpo, o nosso corpo. Esse corpo antropológico que abarca tudo que somos realmente. Qual gênero, qual sexo, quais vontades esse corpo tem, como esse corpo é no mundo?
O processo de investigação do espetáculo envolveu muita leitura sobre a Teoria Queer, Michel Foucault, Stuart Hall, Judith Butler…Todo esse estudo apontava para o entendimento de uma forma de estar no mundo, uma forma comportamental de entendimento de suas prisões para poder se sentir LIVRE. Aqui abro parênteses para falar de JUNIOR…
Junior que sempre teve um corpo « afeminado », Junior que sofria bullying na escola sendo chamado de « viadinho « , frangote, bicha, Junior excluído, Junior a margem, Junior no canto da sala, Junior no canto da família… JUNIOR que precisava de liberdade, que precisava estar no mundo por completo, com a ajuda de Michel, Judith, Stuart, Marcelo, Lilica, Marta, e Caio…
Em Dark Room, está lá o macho, a bichinha, o viadinho, o travesti, a maricona, o pai, o marido, o filho…Lá está o lugar da liberdade de colocar pra fora todas essas máscaras que sou e as que colocaram em mim mesmo sem eu querer. Lá está o lugar de ficar nu em cena…Lá está minha LIBERDADE…Sem romantismos, sem pieguice, como todos os « clichês « .