Cia. Etc. estreia “Os Superficiais” na comemoração de seus 15 anos
Imagens – Felipe Ferreira
No ano em que comemora 15 anos de atividades, a Cia. Etc. dedica-se à investigação dos tipos de relações estabelecidas com o mundo pós-moderno marcado pela velocidade e superficialidade nas interações sociais, partindo das experiências pessoais de seus bailarinos e bailarinas, para criar Os Superficiais.
Com direção de Marcelo Sena, o espetáculo inspira-se nas redes sociais virtuais – nossas mais atuais e já imanentes formas de comunicação e relações humanas – para propor uma obra, um jogo ou uma brincadeira que aposta na tão recorrente exposição pessoal, na cópia compartilhada como original, na velocidade e volume da informação, na superficialidade do conteúdo, na interrupção das ação e na dificuldade de manter um só foco de atenção. A lógica de um tempo linear tem encontrado cada vez menos espaço nas experiências pessoais, influenciando, inclusive, na nossa maneira de construir e salvaguardar nossa memória. Os Superficiais aproveita isso, pra misturar, interromper, passar por cima, catar vestígios das memórias, juntar destroços e espalhar confetes em cima disso tudo que compõe nossas vidas, com ou sem smartphones, televisão, internet, produtos, artes e pessoas.
Os Superficiais fará sua temporada de estreia em espaços públicos abertos do Recife e Olinda, e também no Teatro Arraial. Com este formato flexível e adaptável, o trabalho busca superar a difícil realidade da produção artística com os atuais espaços culturais no estado, assim como o desejo de encontrar novos públicos, incluindo aqueles que não tenham hábito, tempo ou desejo de frequentar uma casa de espetáculos. Reforçando essa ideia de ocupação dos espaços e do alcance de público, as apresentações no teatro contarão também com o recurso de tradução em LIBRAS, a fim de tornar a dança parte integrante também da cultura surda.
Com um processo colaborativo de criação, os artistas Elis Costa, José W Júnior, Marcelo Sena e Renata Vieira travaram longos e diversos laboratórios de dança, realizaram leituras relacionadas às novas teorias da neurociência sobre a memória e sobre o uso da consciência, além de compartilharem suas experiências corporais como profissionais da dança e também as mais pessoais, que passeiam nesse campo frágil que é a memória, tecendo uma rede de experiências em comum e outras tantas divergentes presentes na dramaturgia corporal do espetáculo.
A trilha sonora de Marcelo Sena partiu de referências musicais e elementos sonoros que servem como mais um estímulo à ativação das memórias físicas e afetivas. A cenografia, cujos elementos visuais foram pensados e construídos pela companhia, explicita a proposta do jogo, demarca território, ocupa o espaço (público ou não), embala de ludicidade os olhos e as lembranças, doces ou amargas, que sobre ele se desenham. Marcondes Lima entra de cabeça no risco de criar um figurino que possa dialogar com tudo isso, mas que também possa ser contraditório e até mesmo sem sentido em meio a tantas informações sobrepostas e conflitantes, criando outras peles a serem vestidas e despidas com a velocidade com que fazemos ou desfazemos amigos em nossas redes sociais.
A produção é de Hudson Wlamir, produtor de marcante atuação na cidade e formado pela Cia. Etc., onde atua há 6 anos. Filipe Marcena, cineasta e mais novo integrante da companhia, vem documentando todo o processo de criação a partir de pequenos vídeos batizados de DesktopDoc, numa referência ao modo de edição dos vídeos, capturando as imagens na própria tela do computador. Todos os DesktopDocs, assim como vários registros multimídia do espetáculo estão disponíveis nas redes sociais e no site da companhia: www.ciaetc.com.br
Para a montagem e temporada de estreia a companhia contou com o incentivo do Funcultura, por meio da Secretaria de Cultura, Fundarpe e Governo do Estado de Pernambuco.