“Las Mariposas” traz histórias de violência contra mulher para diversas praças da RMR
Imagens – Williams Oliveira e Rafael Accioly
“Toda dor pode ser suportada, se sobre ela puder ser contada uma história”. A frase da pensadora alemã Hannah Arendt (1906-1975) traduz muito bem o propósito de interferência artística do mais recente trabalho do Núcleo de Experimentações em Teatro do Oprimido – NEXTO. Las Mariposas é fruto do desejo dos atores Andrea Veruska e Wagner Montenegro de retratar a situação de violência contra as mulheres em Pernambuco.
Durante o mês de outubro, novembro e dezembro 13 comunidades da Região Metropolitana do Recife (Macaxeira, Ilha de Deus, Prazeres, Joana Bezerra, Coque, Chão de Estrelas, Hipódromo, Alto José do Pinho, Santo Amaro , Imbiribeira, Santa Tereza, Coelhos, Cidade Universitária) a encenação que acontecerá sempre às 19h30 e totalmente aberta ao público. O nome do espetáculo faz referência às irmãs dominicanas Maria Tereza, Pátria e Minerva, conhecidas como Las Mariposas, que foram mortas em 25 de novembro de 1960 pelo regime ditatorial da República Dominicana, por buscarem uma vida com mais igualdade entre homens e mulheres.
O tema da violência contra a mulher sempre esteve muito presente ao longo dos mais de 11 anos de experiência dos atores com Teatro do Oprimido, método teatral criado pelo brasileiro Augusto Boal. Segundo Andrea Veruska, “a violência contra a mulher sempre foi um problema recorrente nos diversos grupos e nos mais diferentes lugares que a gente atuava, sobretudo nos grupos que trabalhamos nas cidades do interior de Pernambuco. Tínhamos também o conhecimento de casos de violência com mulheres muito próximas e a gente sentia a urgência de falar sobre esse tema.” As histórias que serão encenadas nas localidades da RMR com os maiores índices de violência contra a mulher são reais e a construção da dramaturgia se fez a partir da escuta de mulheres que sofreram violência; através de entrevistas, o texto para o espetáculo foi criado.
O primeiro exercício para a construção do espetáculo deu-se por meio de duas intervenções pelas ruas do Recife. Nestas performances, o ator Wagner Montenegro caminhava pelas ruas puxando a atriz Andréa Veruska por uma coleira amarrada ao pescoço. Tratava-se da experiência de observar como as pessoas reagiriam ao ver uma situação de violência tão explícita na rua. “Caminhávamos cotidianamente, nada era teatral. Não usávamos maquiagens, nem figurinos que denunciassem que aquilo era teatro. Essa técnica se chama Teatro Invisível e faz parte do conjunto de técnicas do Teatro do Oprimido. A gente andava pelas ruas, numa situação corriqueira e as pessoas xingavam muito Veruska e diziam que ela devia ter feito alguma coisa pra merecer ser acorrentada. Fizemos essa intervenção duas vezes, em dois ambientes distintos. A primeira foi nas redondezas do Mercado de São José e a segunda pela praia de Boa Viagem”, acrescenta o ator Wagner Montenegro.
Com a encenação, pretende-se facilitar o acesso dessas populações ao teatro, ainda mais tratando de um tema que permeia a vida de tantas pessoas. “A nossa forma de militância é com a arte. É essa forma que a gente tem, que a gente sabe fazer e é a nossa maneira de denúncia. Queremos mesmo que esse espetáculo toque as pessoas que irão nos assistir e que seja uma maneira eficaz de gritarmos que a violência contra a mulher é real e está muito perto da gente” destaca o ator Wagner Montenegro. Para a encenadora Maria Agrelli o “desafio é encontrar na rua uma possibilidade de intimidade com o público e, a partir daí, utilizar uma semiarena em que ele esteja muito próximo dos artistas para que a relação seja criada sem separação. O desejo é de trazer a respiração pra perto, de construir um espetáculo intimista, na ideia de que as pessoas se sintam em casa.” Oficinas para compartilhar histórias – Mulheres compartilharam suas histórias de violência com o NEXTO, através de oficinas em que foi utilizada a técnica “a imagem em três tempos”, da Estética do Oprimido, que é uma das vertentes do Teatro do Oprimido.
Na oficina, as mulheres contaram, em imagens em telas, as suas histórias. As produções resultantes da oficina vão compor o cenário de Las Mariposas, os quadros pintados por elas se transformaram em almofadas para o público sentar e assistir ao espetáculo. Triste realidade, a violência contra a mulher – A violência contra a mulher é umas das principais causas de morte feminina no Brasil. No país, a cada quatro minutos uma mulher é vítima de agressão e nos últimos dez anos 43 mil mulheres foram assassinadas
Programação da Temporada
Outubro
Quando? 09.10 (19h30) | Onde? Escola Pernambucana de Circo (Av. José Américo de Almeida, 05 – Macaxeira)
Quando? 10.10 (19h30) | Onde? Comunidade da Ilha de Deus (Rua Engenho Bom Recreio, 92 Recife | Em frente ao Centro Saber Viver)
Quando? 11.10 (19h30) | Onde? Espaço Arena (Viaduto Prefeito Geraldo Melo, no cruzamento com a Avenida Barreto de Menezes, em Prazeres)
Quando? 15.10 (19h30) | Onde? Pérola Francisca dos Passos (Polo da Academia da Cidade do Coque, instalado na Ilha Joana Bezerra)
Quando? 16.10 (19h30) | Onde? Praça de Chão de Estrelas (Rua Passarela, 18A, Chão de Estrelas)
Quando? 17.10 (19h30) | Onde? Praça do Hipódromo (Rua Gaspar Regueira)
Quando? 29.10 (19h30) | Onde? Centro Social Dom João Costa (Acaiaca, 70 – Alto José do Pinho, Recife – PE)
Quando? 30.10 (19h30) | Onde? Praça do Campo Santo (Santo Amaro)
Quando? 31.10 (19h30) | Onde? Lagoa do Araçá (Avenida José Ferreira Lins – Imbiribeira)
Novembro
Quando? 07.11 (19h30) | Onde? Galpão dos Sonhos (Rua Duarte Coelho N.269 Bairro de Santa Tereza – Olinda)
Dezembro
Quando? 04.12 (19h30) | Onde? Praça dos Coelhos
Quando? 10.12 (19h30) | Onde? UFPE (Cidade Universitária)
Quando? 11.12 (18h) | Onde? Centro de Educação – UFPE
Quando? 12.12 (19h) | Onde? Daruê Malungo – Chão de Estrelas – Recife
Quando? 14.12 (18h) | Onde? Praça dos Coelhos – Coelhos, Recife
Quando? 15.12 (18h) | Onde? Ilha do Maruim – Olinda (Em frente à Unidade de Saúde da Família)
Ficha Técnica
Elaboração e realização do projeto: NEXTO
Dramaturgia e pesquisa: Andréa Veruska, Wagner Montenegro e Maria Agrelli
Revisão de texto: Heber Costa
Elenco: Andréa Veruska e Wagner Montenegro
Encenação: Maria Agrelli
Direção de atores: Ceronha Pontes
Direção de arte: Marcondes Lima
Aderecista: Álcio Lins
Sonoplastia: Nana Milet
Iluminação: Eron Villar
Operação de luz: Gabriel Félix e Eron Villar (Villa Lux)
Coreografia: María Laura Herrero
Editora gráfica: Iara Sales
Cenotécnico: Gustavo Teixeira
Costureira: Maria Lima
Técnicos de montagem: Diógenes D. Lima e Gaguinho
Registro fotográfico: William Oliveira, Rafael Acioly e Priscila Câmara
Produção de vídeo: William Oliveira | 7ª Arte Cinema
Produção executiva: Luciana Barbosa
Assessoria de imprensa: Nice Lima | Ritmo Comunicação
Contabilidade: Hypólito Patzdorf
Informações:
projetomariposas@gmail.com | nextoblog.wordpress.com | www.facebook.com/nexto.pe