“O Edf. Texas é mais do que um bar, mas um local onde fervilham várias linguagens” | Entrevista – Festival Pague Quanto Puder
Giordano, como funcionou essa transição de uma mostra de repertório do Magiluth para um festival de artes integradas?
Então, Márcio, como você falou, o Pague Quanto Puder nasceu como uma mostra de repertório do Magiluth quando a gente foi contemplado pelo Funcultura para fazer uma mostra de repertório nesse formato de “pague quanto puder”. Fizemos uma mostra de um mês com as peças que faziam parte do repertório na época – Um Torto, O Canto de Gregório e Aquilo que meu olhar guardou pra você – e, sempre quando a gente faz um trabalho em que a repercussão é muito, nós gostamos de manter, de dar continuidade. Ele foi acontecendo ao longo dos anos e a gente até enviou o projeto para o Funcultura esse ano já com esse caráter de artes integradas. Tudo isso aconteceu muito por conta das nossas mudanças para o Edifício Texas, um espaço de muita convergência artística. Cinema, graffiti, música… Então, essa troca permitiu que a gente tivesse mais diálogo com outras linguagens e essa ideia de festival foi se solidificando. Então, a ideia era fazer mais uma mostra de repertório da gente e mais algumas pessoas que já vinham flertando com a gente, como a banda Ex-Exus, que sempre dizia que a forma como a gente estava no palco dialogava bastante com o modo como eles performavam.
Então, a gente resolveu aproveitar e trazer outras pessoas para trocar: como o Marcelo Castro, do Espanca, de Belo Horizonte. A gente tinha visto uma performance dele, chamada Ruído, de que tinha gostado muito e que podia ser feita por Skype. Então, a gente entrou em contato com ele, que queria vir muito a Recife para realizar a performance e pagou a própria passagem para vir e pediu somente um lugar para ficar. Então, a gente aproveitou essa oportunidade para entrar em contato com outras pessoas que também pudessem colaborar conosco para compor essa mostra nesse formato. As pessoas com que a gente foi conversando foram comprando essa ideia e o festival terminou saindo de uma mostra de repertório para um festival de artes integradas, com esse monte de gente envolvida e interessada em debater questão de valor artístico conosco. Então, esse evento só está acontecendo porque essas pessoas estão interessadas em desenvolver essa questão e por isso que ele ficou grande desse jeito.
Comenta um pouco sobre como vocês estão pensando essas conexões entre a fruição estética e a formação no festival de vocês.
A parte de formação, para a gente, tem sido uma das mais importantes dessa mostra, pois, para além de a gente incluir uma oficina nossa, outros artistas vêm para trazer essa troca. E essas oficinas também fazem parte do processo de criação destes artistas. Então, é a chance do pessoal que vai fazer essa oficina ter contato com esse procedimento, sabe? Além disso, a gente vai ter uma série de outras atividades que mostram a pluralidade deste festival: tem a contação de histórias pela Cia. Agora Eu Era, com Nanda e Cacau. Já existe um movimento que acontece lá na Rua do Rosário da Boa Vista – onde fica o Edf. Texas –, que é o Dia do Brincar. Então, a ideia é unir uma atividade que já acontece à nossa programação. A união do Magiluth com o Ex-Exus, do Ruído, do Marcelo Castro, com um músico de Belo Horizonte para essa performance. Então, existe essa convergência de trocas eu vai ser interessante, além dos shows, festas, exposições, tatuagem. Tudo isso no formato “pague quanto puder”.
Uma das coisas mais interessantes no PQP desse ano é esse deslocamento do teatro para áreas mais alternativas, como o Pátio de Santa Cruz. Como vocês pensaram a escolha dos espaços?
O Edf. Texas é muito mais do que um bar, do que um lugar de festa. Ele é um local onde estão fervilhando vários pensamentos artísticos em várias linguagens, desde a sua origem. A gente estar ocupando o terceiro andar foi o último ponto disso, mas já aconteciam ali mostras de cinema, um ateliê de moda que funciona no primeiro andar, um estúdio de fotografia, no segundo. Então, ele é um edifício em que esse movimento artístico é muito vibrante. O lugar do teatro nele vem acontecendo por conta dos ensaios e que, por ventura, faz alguma atividade. Ainda não apareceu no nosso interesse transformar o Texas em um espaço teatral, por mais que atividades teatrais ali aconteçam. Mas se acontecer de forma orgânica, que seja muito bem vinda. No caso do festival, o fato do Texas ser o espaço de realização das atividades vem mais por uma questão de acolhimento, de se sentir em casa e também pelo tempo em que foi pensado esse festival. Como foi tudo muito em cima da hora, a gente não teve tempo de conseguir pautas de outros teatros – até conseguimos a do Barreto Jr.. A gente até queria outra pauta para o espetáculo Alegria de Náufragos, mas terminou que não conseguimos por choque de agendas, mas ficamos somente com a do O ano que sonhamos…
A ideia da gente é que o festival, em próximas oportunidades, não fique restrito ao Texas, mas que se expanda para outros espaços, locais de outros grupos da cidade também. A gente acredita que essa ocupação de outros espaços para fazer teatro seja muito legítima – inclusive para criação de novas linguagens –, mas a gente acredita também na importância na ocupação do espaço destinado ao fazer teatral – justamente para que aquele lugar seja visto como um espaço de utilidade. O teatro é uma arte é muito potente que pode acontecer onde quer que esteja, mas a gente se sente bem levando nossos trabalhos para o espaço físico do teatro pois é um direito nosso. É um espaço que a cidade pede, que é de obrigação do Estado que ele exerça suas funções de maneira adequada. Então, é preciso ter cuidado para a gente não deixar brechas para que eles tenham argumentos para dizer que esses espaços não sejam tão necessários na cidade, entende? Porém, mesmo diante disso tudo, esse festival também é a celebração do nosso ano primeiro ano no Edifício Texas. Então, tem sido muito aconchegante receber esse pessoal lá.