Cia Maravilhas estreia programa de rádio de contação de histórias Palavras No Ar
Imagens – Luiz Felipe Botelho | Ricardo Maciel | Arte de Cartaz – Java Araújo
Palavras NO AR, um encantador projeto de contação de histórias infantis que os adultos de coração vão amar, tem data de lançamento: 8 de novembro, no Museu do Cais do Sertão, das 15h às 18h. O evento contará com audição e dramatização de histórias, exposição das fotos do making of, exposição de peças e brincadeiras com o Coletivo Eu Passarinho; apresentação da palhaça Gertrudes e Edjalma Freitas.
E, com a palavra, a idealizadora do projeto, a atriz e arte-educadora Márcia Cruz.
Palavras NO AR, a razão de tudo…
O Palavras NO AR é um projeto que eu acalentava no peito há muito tempo, é coisa antiga. Ele surgiu das minhas memórias. Ainda criança me lembro de estar rodeada de contadores de causos, sobretudo meu pai e o padrinho da minha irmã. Eles não eram contadores de histórias como se vê hoje, mas sim de causos e eu cresci ouvindo divertidas histórias de trancoso e acabei por adorá-las.
O rádio, por sua vez, sempre esteve presente em minha vida, fortemente. Ainda pequena, vez por outra ia com a família visitar os avós em Teresina. Meu avô era um homem alto, calmo, que adorava os netos e acho que por isso tinha uma paciência de Jó com o alvoroço que fazíamos na sua casa. Porém, chegada a hora do jornal, ele mudava o tom. De repente, a serenidade dava espaço para firmeza e ele exigia silêncio.
A televisão da família ficava na sala e bem próximo, um rádio daqueles antigos. Começava o jornal, vovô puxava uma cadeira, se curvava, abraçava o ‘bicho’ e ficava ali, ouvindo as notícias. A TV estava ligada, minha avó a assistia e ele ali, abraçado com o tal rádio. Ficava intrigada com a cena, mas minha urgência de menina era brincar. Demorei algum tempo até perguntá-lo: Por que o senhor não assiste ao jornal na televisão? ‘Eu prefiro o rádio’, ele respondeu. Eu também.
Do outro lado do mundo, também, com o dito cujo…
Já adulta, fiz uma especialização em Genebra, Suíça. Lá, havia um programa de rádio, jornalístico, direcionado para crianças e, desde criança, eu amo crianças. Elas entravam ao vivo e o radialista conduzia tudo maravilhosamente ótimo e olha que não é fácil fazer ao vivo com os pequenos. Quem mais ouvia o programa era eu. Decidi que quando voltasse ao Brasil faria um projeto de rádio direcionado aos pequenos. Assim, dessa mistura de memórias e afetos, nasceu o Palavras NO AR.
Escolhendo as histórias…
O processo de seleção das histórias passou por diferentes etapas. O primeiro momento foi de leituras e mais leituras. Como também sou professora de teatro para crianças, tenho um bom acervo de literatura infantil em casa, então, lemos. Passamos quatro meses assim. Uma vez por semana nos reuníamos para devolver os livros e dizer quais tinham sido as nossas escolhas e a razão de. Quando vimos que já tínhamos um acervo bom para quebrar a cabeça, começamos a elaborar os critérios para seleção.
Um dos primeiros e que já derrubou uma leva de histórias foi que iríamos trabalhar com narrativas da tradição oral. Das mais de 700 lidas, pinçamos 54. Dentre os autores que ficaram até a seleção final estão: Neil Phillipp, Luiz Câmara Cascudo, Regina Machado, Walcyr Carrasco, Ana Maria Machado, Jean Claude Carrière, Illan Brenman, entre outros. Em seguida, nos preocupamos em elencar histórias brasileiras e do Nordeste, afinal seria interessante que as novas gerações conhecessem as histórias do seu lugar. Contudo, como os temas da literatura oral giram sempre em torno do próprio ser humano, não raro, histórias de lugares distantes se cruzam ou assemelham.
É o caso da Dona Baratinha, da tradição oral brasileira, que chegou até nós pelos portugueses, mas que dialoga com a Cigarra e o Camundongo, da tradição oral africana. Assim sendo, a própria circulação das narrativas de tradição oral nos conduziu a trabalhar com histórias dos cinco continentes – por esse motivo temos 22 histórias brasileiras e 32 estrangeiras. Mas os critérios foram além. Dentre outros aspectos, consideramos as questões de gênero e não raro as personagens femininas são as protagonistas dos textos.
O povo do projeto…
Em sua organização, o Palavras NO AR tem uma equipe principal e vários parceiros: Idealização e Direção de Arte de Márcia Cruz; Coordenação Geral de Greyce Braga; Direção de Comunicação de Edgard Homem; Produção Geral de Edjalma Freitas; Produção Executiva de Luciana Barbosa; Direção Musical de Henrique Macedo; no Elenco, os grupos de teatro Companhia Fiandeiros de Teatro (confira vídeo AQUI), Trupe Ensaia Aqui e Acolá (confira vídeo AQUI) e Cia Meias Palavras (confira vídeo AQUI); Realização da Cia Maravilhas.
Inicialmente, na distribuição das histórias entre os grupos procurei equilibrar as origens, desta forma, teremos narrativas da Índia contada por grupos diferentes. Depois fiz uma redistribuição onde também considerei a aptidão dos grupos para determinados tipos de textos, mantendo a diversificação de origens. Ao longo do seu caminho, o projeto foi ganhando novos parceiros, caso de Java Araújo, Designer; Luiz Felipe Botelho e Ricardo Maciel, fotógrafos; Adélia Oliveira, artista plástica, criadora dos móbiles e dos bonecos e o Estúdio do Centro de Difusão e Realizações Musicais do SESC Casa Amarela, onde acabamos de concluir a primeira etapa do trabalho, a gravação das vozes dos atores. Agora estamos entrando no momento da edição quando virão as sonoplastias e temas.
Literalmente NO AR…
Paralelamente, estamos negociando com as rádios comunitárias para veicular todas as histórias do projeto. De toda forma, o certo é que serão seis rádios comunitárias, uma em cada RPA (região político-administrativa). Iniciamos também a construção do blog onde as crianças e todos que assim desejarem poderão se informar sobre as histórias do dia e sobre o projeto em si. Enfim, o Palavras NO AR, aprovado em 2013 pelo Fundo de Incentivo à Cultura do Estado de Pernambuco, Funcultura, foi pensado para crianças de todas as idades. Espero que elas se divirtam tanto quanto nós ao longo da montagem do projeto!
Para finalizar, só um detalhe: o rádio do meu avô me acompanha até hoje. Fui eu quem o herdou.