Espetáculo “A Rã” no Teatro Hemilo Borba Filho
Espetáculo da Cia Animatus Invictus será lançado no dia 3 de março no teatro que leva o nome do escritor
Estreia no dia 3 de março o espetáculo “A Rã”, um conto homônimo de Hermilo Borba Filho, que mostra uma experiência paralisante e caótica de medo. Uma mulher que se perde e se entrega ao pavor causado por uma pequena rã, que aumenta de tamanho e a engole, acabando com a vida da personagem. “A Rã” é a peça de maior relevância da trajetória da Companhia Animatus Invictus, que na ocasião estreia Luiz Manuel na direção. No elenco, Diego Lucena e Cláudio Lira, atores que dão vida ao conto; Charles de Lima, como diretor de arte e cenotécnico; Alexandre Henrique, na sonoplastia; Evandro Mesquita, na contra regragem e Natalie Revorêdo, na iluminação.
A encenação, que será apresentada no Teatro Hemilo Borba Filho, nas duas primeiras quintas, sextas, sábados e domingos de março, a partir das 20h, é permeada por um aspecto sombrio, de terror, onde a falta de compreensão do medo e o descontrole da mente contribuem para a construção de labirintos. Na representação, os atores travam um diálogo sobre o medo e como ele congela o ser humano, trazendo à tona as fobias, as dores, o sofrimento e a ansiedade como fatores determinantes para a instalação do caos e do pânico. A dramaturgia é composta pelo conto “A Rã”, na íntegra, com textos de Shakespeare, Lorca, Osman Lins, Poe, do próprio Hermilo, além das influências pessoais dos atores.
A proposta de trabalhar com Hermilo, segundo o diretor do espetáculo, Luiz Manuel, veio a partir do edital Aprendiz em Cena. “A Rã” mostra um pouco da pesquisa sobre o trabalho de ator, dramaturgia e espaço cênico, que vem sendo feita ao longo dos quatro anos de companhia. “Começamos a fazer um laboratório, o mais verdadeiro possível. Foi massa a entrega de Diego e Cláudio Lira (protagonistas de “A Rã”) tanto em cima da antropologia teatral, como em cima de uma veia meio psicológica. Também trabalhamos mais com uma pegada confessional e esses momentos confessionais do medo dos atores, a relação que eles têm com isso também entrou na dramaturgia, o que contribuiu para dar um ar mais real”, contou Luiz.
O diretor ressalta que a grande tentativa enquanto condutor estreante do processo é estudar as relações do ator performer (esse ator do transe, que Grotowski falava; esse ator do pânico, que Jodorowsky falava) e o ator brincante, que Hermilo tanto estudou. “A relação psicofísica que se pode estabelecer na manifestação do ator. Estudamos vários métodos para desenvolver partituras, coreografia e, em cima do trabalho de ator do Tchekhov, fomos trabalhando os centros de energia e os gatilhos que despertem os sentimentos e as emoções para que a cena aconteça”, disse Luiz, ressaltando que a Rã sempre foi uma metáfora perfeita do quanto o medo é pode travar totalmente o ser humano. Como ele pode impedir o ser de se desenvolver, de realizar.
“Nesse sentido eu quis fazer uma encenação dentro do universo de Hermilo, que é mais direcionado ao realismo fantástico, visto que a minha concepção de criação é toda com base nessa linha. A ideia foi tratar sobre o medo nessa perspectiva, passando uma mensagem positiva no final. Acredito que a função primordial do teatro é fazer com que as pessoas tenham momentos de encontro dentro de uma sala, numa praça, onde tiver acontecendo uma manifestação teatral e que depois desse encontro as pessoas saiam de lá reflexivas e com mais fé na vida do que quando chegaram”.
Sobre a montagem do espetáculo, o grupo optou por construir tudo por conta própria. O material reciclado foi a principal ferramenta que deu vida ao cenário, o que pode ser visto principalmente, nos enormes biombos, que formam os labirintos do medo, além da própria figura da Rã. “Isso mostra que a prioridade da companhia é desenvolver ao máximo o nosso potencial de realização e ver até onde a gente pode chegar. Fizemos o cenário de “A Rã” (se referindo principalmente aos biombos) com os papelões. Uma obra enorme que é responsável pela dinâmica do espetáculo, inclusive, é a parte mais cartesiana do espetáculo. Todas as outras cenas, apesar de elas terem uma espinha dorsal muito fixa, têm espaço total para o improviso”. Luiz garante que quem assistir “A RÔ uma vez não verá o mesmo espetáculo da próxima vez, “mas o movimento dos biombos vai ser o mesmo”.
“Além da falta de grana para montar tudo, o espírito de Charles (diretor de arte e cenotécnico) impulsionou a companhia a mergulhar nesse processo de criação porque ele tem essa veia da reciclagem e sempre defendeu que a gente pode fazer tudo. E realmente, a cada passo que a gente vai dando as condições mostram que estamos no caminho certo. Se a gente fosse contratar alguém pra fazer o que já construímos seria necessário um orçamento bem generoso (uns 300 mil, risos)”, revelou.
Quanto ao formato de “A Rã”, a ideia foi fugir do contexto passivo, onde o público, simplesmente, assiste e recebe as informações sem interagir com o espetáculo. Com esse espírito Artaudiano, de levar o público para vivenciar a cena, a Animatus Invictus optou por eliminar, essa estrutura que separa palco e plateia, apostando no processo de incluir, sentir e envolver os que ali estão para experienciar o trabalho. O público será convidado a despertar e olhar cada memória que vai sendo ativada com o espetáculo e, também, a enxergar possibilidades de entendimento e de liberação de memória, quase que num processo que vai colocando em ordem o nosso sistema, ou se preferir, um processo de constelação familiar – método terapêutico, desenvolvido pelo alemão Berth Hellinger, que trabalha a não eliminação dos sentimentos e, sim, o que é que aquele sentimento (no caso do medo) está tentando lhe dizer com a sua manifestação e o que ele pode ensinar.
“No Recife, cada vez mais a tendência vai ser essa. Uma nova safra de espetáculos muito criativos no que diz respeito ao espaço. Não necessariamente no intuito de quebrar a passividade, mas de sempre utilizar espaços alternativos. O Recife tem essa forte característica e deve continuar assim. Primeiro porque falta teatro na Cidade, temos teatros fechados, e isso leva as pessoas a usarem espaços alternativos para um público menor”.
O som
A trilha sonora do espetáculo também foi toda construída pela companhia. O operador é Alexandre Henrique, parceiro de som do grupo, que tem vasta experiência em sonoplastia. Luiz e Alexandre testaram, compuseram e gravaram juntos. Os músicos Marcelo Ferreira e Marcelo Campelo também colaboraram produzindo sons agonizantes, com ênfase nas guitarras distorcidas. Na trilha também estão Stockhausen, Coral da Figueira e Schönberg. Fora isso têm algumas vozes de Antonin Artaud.
A companhia
Luiz Manuel, Charles de Lima, Diego Lucena são os responsáveis por dar vida ao teatro, através da companhia Animatus Invictus. Nenhum deles tem formação em Artes Cênicas. “No início, não conseguiam levar a gente muito à sério porque sabiam que não tínhamos formação em teatro. Sou historiador, Diego turismólogo e Charles, educador físico e atleta. Toda a nossa formação em teatro é prática. E Diego é um ator premiado, eu acabei de ser premiado também e não foi a formação acadêmica que deu facilidade em manter o estudo. E quatro anos depois de fundada a companhia, estamos estreando o espetáculo impregnado do que a gente vem fazendo”, contou Luiz.
Desde 2012, já desenvolveram trabalhos como “A Palhoçada”, “Conto Contigo”, “A Rã” e estão desenvolvendo a “Águia e o Mamute”, que será lançado em outubro. Já Cláudio Lira, da Companhia Kamikase, foi convidado para atuar em “A Rã”, junto com Diego Lucena. Claudinho, que tem uma vasta caminhada no universo teatral, também usou seu talento para desenhar o figurino do espetáculo e também deu os seus toques na figura da Rã.
Contatos:
Luiz Manuel – direção: 9 9778.3619
Naruna Freitas – produção: 9 9642.8242
Jamille Coelho – assessoria de imprensa: 9 9278.4653
SERVIÇO:
Espetáculo teatral inspirado na obra de Hermilo Borba Filho.
Direção: Luiz Manuel
Atuação: Claudio Lira e Diego Lucena
Lotação do espetáculo: 30 pessoas
Duração: 1h
Classificação: 16 anos
Período: 3, 4, 5, 6 e 10, 11, 12 e 13 de março.
Horário: 20h
Ingressos: R$ 20 (inteira) R$ 10 (meia)