O poder transformador do afeto | Entrevista – Lucas Drummond
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Imagem – Jo Prazeiro
Após temporadas de grande sucesso no Rio de Janeiro e em São Paulo, o espetáculo Órfãos continua conquistando o público e a crítica. Com a temporada no Teatro FAAP prorrogada até 26 de setembro, a montagem dirigida por Fernando Philbert e protagonizada por Lucas Drummond, Ernani Moraes e Rafael Queiroz, tem sido um destaque no cenário teatral brasileiro.
A peça, escrita por Lyle Kessler em 1983, já foi montada em diversos países e premiada em várias ocasiões, incluindo 17 indicações e várias vitórias em prêmios como o APTR e o CENYM. Com uma cenografia que reforça o abandono dos personagens e uma trilha sonora que cria atmosferas emocionantes, Órfãos é uma obra que continua tocando plateias ao redor do mundo.
Na entrevista a seguir, o ator e produtor Lucas Drummond conversa com o Quarta Parede sobre os processos de criação do espetáculo.
O que os motivou a escolher ‘Órfãos’ para uma adaptação brasileira, e como foi o processo de idealização dessa montagem?
Apaixonei-me completamente por essa peça desde o meu primeiro contato com ela, na primeira leitura, que aconteceu durante um conservatório de verão em atuação, em Nova York, em 2018. Fiquei profundamente tocado pela história do espetáculo. Sou muito apaixonado por peças que têm uma trama envolvente, e essa peça me emocionou profundamente, tanto pela história quanto pelos personagens e, principalmente, pelos temas que aborda — entre eles, a luta humana pela sobrevivência e o poder transformador do afeto na vida de um ser humano. Naquela época, eu já estava em busca de textos para montar quando voltasse ao Brasil, e “Órfãos” apresentava várias vantagens do ponto de vista de produção. Primeiro, é uma peça para três atores, ou seja, um elenco pequeno, com personagens extremamente bem escritos, o que é um trunfo, já que é raro encontrar três personagens tão bem desenvolvidos e igualmente importantes numa mesma peça. Em segundo lugar, o fato de ser uma peça com um único cenário também facilita a produção. Então, acredito que foi a união da minha paixão por esse texto, desde a primeira leitura, com as inúmeras vantagens que ele trazia para mim, como um jovem produtor.
Como foi a escolha de trabalhar com o diretor Fernando Philbert? Houve algum momento em que você sentiu que ele te desafiou como ator?
Eu já queria trabalhar com Fernando Philbert há bastante tempo; ele é um diretor cujo trabalho eu já admirava e com quem desejava colaborar. O processo foi extremamente prazeroso e, sim, muito desafiador. Fernando é um grande líder, um profissional que entende profundamente de teatro. No processo, ele foi como um pai para nós três. Criar um personagem e ensaiar uma peça é algo que muitas vezes deixa os atores inseguros, quase como órfãos, e Fernando foi o melhor pai que eu poderia ter escolhido para esse projeto.
Você desempenha uma dupla função neste projeto, como ator e produtor. Como funciona esse processo de dividir-se entre as funções dentro e fora do palco?
Ser ator e produtor de um mesmo projeto é sempre um grande desafio, pois você acaba trabalhando em dobro. No entanto, eu não produzo sozinho. Tenho ao meu lado uma equipe de produção extremamente competente, liderada pela Nathalia Gouvêa, que assume totalmente o espetáculo a partir do momento em que toca o terceiro sinal e o Lucas, ator, entra em cena. Produzir é complexo, trabalhoso, mas muito recompensador. Saber se produzir, na minha opinião, é uma vantagem para qualquer ator, não só porque ele pode criar suas próprias oportunidades, sem depender que o telefone toque, mas também porque ele pode se oferecer as melhores oportunidades, papéis para os quais talvez nunca fosse escalado, ou demorasse muito para ser.
Como você acredita que a cenografia de Natália Lana e a trilha sonora de Marcelo Alonso Neves contribuem para o clima de abandono e precariedade que caracteriza os personagens principais?
O cenário da Natália, a luz do Vilmar, a trilha do Marcelo e o figurino da Rocio são elementos fundamentais na construção dessa atmosfera de abandono que o espetáculo evoca. Um bom espetáculo, na minha opinião, resulta da harmonia entre cenário, figurino, iluminação, trilha sonora, direção de movimento e elenco. Neste projeto, tive a sorte de trabalhar com os melhores profissionais do mercado, o que, com certeza, foi peça-chave para os sucessos que o projeto vem colhendo.
Órfãos foi montada em diversos países ao longo de quase 40 anos. O que você acredita que é universal na história e faz com que ela ressoe em diferentes culturas?
A peça aborda temas não apenas universais, mas também atemporais. Relações entre pais e filhos, a luta do homem para sobreviver e o poder transformador do afeto são questões que fazem sentido em qualquer tempo, cultura ou país. E a peça trata desses temas de forma densa, profunda, mas com muito bom humor, envolvendo o público e trazendo-o para dentro da história.