Crítica – Breaking/PE | Vestígios históricos H2, PE

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Por Smael Dias
A aula documentário Breaking/PE, de G-Black aborda o apagamento do Breaking na região metropolitana. Trata-se de um dos resultados da residência realizada dentro da programação do Projeto Recordança 20 anos: política do encontro, pelo Acervo RecorDança, em fevereiro e março de 2024, no Centro de Educação e Cultura Daruê Malungo, em Recife (Pernambuco).
Por meio desta aula documentário, o autor, b-boy, arte-educador e presidente da comissão de ética da Confederação Pernambucana de Breaking, G-Black, apresenta alguns objetos que representam sua caminhada na cultura Hip-hop, tais como o disco de vinil (representando o elemento do DJ), a lata de spray (o Grafite), e uma madeira com o nome “B-boy”, escrito como troféu (o Breaking). Ademais, o conteúdo abordado no trabalho traz a chegada do Hip hop, por meio dos depoimentos de Dicinho e Marcelo Toni Boy, alguns dos primeiros b-boys de Recife e integrantes de algumas crews (equipes) que existiram na década de 1980 no estado.
O trabalho do G-Black, apresentado nesta ação do Acervo Recordança, apresenta um ponto em comum com o artigo A Dramaturgia Expandida: um campo aberto de (in)definições, escrito por Laura Castro e Candice Didonet (2021), no que se refere à noção de expansão:
Pensar nessa palavra como água congelada. Não deixa de ser líquida, mas, ao resfriar, aumenta o volume. Sua manutenção no estado de expansão nos leva a pensar em sua formação: multiforme, cambiante, passível de transformações. (Castro e Didonet, 2021, p. 37-38).
Falar sobre o breaking é falar sobre sua origem. Falar sobre a origem é falar sobre a história que não teve registro em sua chegada aqui em Recife, mas que precisa ser expandida.
Em vista disso, a iniciativa de levantar a história do início do Hip-hop é de extrema relevância, pois G-Black menciona vários nomes que esculpiram o movimento para a cena atual. Um exemplo pode ser visto quando é citado o grupo Legião Hip Hop, que tinha como integrantes dois ícones, Chico Science e Jorge du Peixe, precursores do Movimento Manguebeat; e Nelson Triunfo, um dos fundadores do grupo de dança Funk & Cia, e que também fez parte do
Movimento Black Power em São Paulo, além de figurar como um dos principais dançarinos de soul e breaking do Brasil.
É interessante quando o autor compara a nomenclatura dos encontros da época até a atualidade, ao citar que antigamente os encontros eram celebrações (em forma de roda em que cada b-boy ou b-girl entrava e realizava o racha, um desafio). Com o passar do tempo, os encontros passaram a ter uma configuração mais competitiva, incentivada pelo mercado; e, com isso, os dançarinos deixaram de lado a celebração. Dito isso, foram surgindo novos nomes, como batalhas e cypher (entrada de performance). Desse modo, no contexto das cyphers, os breakers sempre carregam o conselho de um dos b-boys veteranos quando vão batalhar, a saber: “tente separar seus runs em três categorias: movimentos de cypher, movimentos para um espetáculo e burners para as batalhas (NESS, 2016, p. 10).
O autor tentou abordar de forma linear a história do Hip-hop no estado, mas o fato dele ter se deparado com poucos ou nenhum registro sobre a temática fez com que a pesquisa comprovasse poucas informações vividas na época. Embora as entrevistas apresentadas no vídeo mostrassem os pontos de encontro das equipes na década de 1980 (como o Parque Treze de Maio, Estação do Recife, Cinema Veneza e entre outros), a problemática ainda é a mesma: a falta de registro comprobatório da época. Isso, porém, tem como consequência o atual esquecimento dessa parte da história.
Já em relação à questão técnica da aula documentário, podem ser levantados alguns ruídos em relação ao som: na posição de internauta, a possível falta de um microfone para o autor prejudicou a interpretação da fala, além de ter sido visível a ausência de legenda em alguns momentos do vídeo, o que gera uma falta de acessibilidade. Além disso, a apresentação, de forma geral, pode imprimir uma impressão de amadorismo no que tange ao formato do conteúdo, pois é notório que existe um público na sala, mas houve uma falha em criar/manter uma relação com os internautas; e também a falta de um operador para manipular a apresentação de slides, que gera uma distração na retenção do conteúdo por parte do público.
De todo modo, o trabalho apresentado por G-Black é de suma importância não só para o movimento Hip-hop (em especial o Breaking), mas também para as próximas gerações que já vão ter conhecimento sobre os pioneiros do movimento. Nesse caso, é sabido que, apesar de não se ter materiais comprobatórios da época por causa da ausência de recursos financeiros e tecnológicos, têm-se os relatos das pessoas que viveram o movimento. Logo, esta pesquisa de campo é de relevância cultural, social, educacional e política, além de poder incentivar outros trabalhos acadêmicos e não acadêmicos, pois o Hip-hop não é apenas uma cultura urbana, mas também uma tecnologia socioeducativa. Por fim, a aula documentário Breaking/PE traz como significado a existência de algo ainda a ser contado, que vem a ser nada menos que a história sobre o surgimento do movimento Hip-hop em nosso estado.
Referências
CASTRO, Laura e DIDONET, Candice. A dramaturgia expandida: um campo aberto de (in)definições. Revista Dramaturgia em foco. Petrolina-PE, v. 5, junho, 2021.
NESS, Alien. A arte da batalha. Silos.tips. São Paulo. junho, 2016.