Entrevista – Edinho Santos | O corpo como lugar de encontro

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Imagem – Tiago Silva
No Festival Acessa BH 2025, uma das potentes presenças é o espetáculo OZ, que convida o público a habitar um espaço afetivo, acessível e poético. Com uma cozinha como cenário principal e um romance atravessado por camadas sociais, a peça constrói um território de intimidade, linguagem e escuta compartilhada.
Bilíngue em LIBRAS e português, OZ aposta na convivência das línguas em cena, sem hierarquias, criando um espaço onde a poesia falada, sinalizada e vivida pulsa em corpo e gesto. Os recursos de acessibilidade como interpretação simultânea, audiodescrição e legendagem não são apenas suportes, mas elementos que integram a estética do espetáculo.
Com origem na cena do slam, da poesia e do teatro, o artista nos concede esta entrevista, abordando desejos simples: contar histórias de amor que sejam universais, mas sem perder de vista as marcas sociais que atravessam cada gesto.
O espetáculo ‘OZ’ parte de um desejo de ver no palco histórias de romance com simplicidade e, ao mesmo tempo, atravessado por tantas camadas sociais. Como você chegou a este trabalho e como foi o desenvolvimento?
Eu cheguei nesse trabalho a partir de um desejo muito simples: contar histórias de amor de um jeito que todo mundo se reconheça, mas sem ignorar as camadas sociais que atravessam nossas vidas. O processo foi de muita troca com a equipe, ouvindo, experimentando em sala e deixando as coisas nascerem do corpo, da poesia e da convivência. Foi um caminho de afeto e criação coletiva.
Além de ator, você também é poeta e slammer. Como a relação com essas outras linguagens também foi importante no processo de criação?
A poesia e o slam me dão essa vivência da palavra como algo vivo, que pulsa no corpo. Isso entrou direto no espetáculo, porque eu não vejo separação entre poesia falada, sinalizada ou vivida em cena. Essa energia do slam ajudou a dar ritmo, intensidade e presença para o trabalho.
Por se tratar de um espetáculo bilíngue, quais foram os principais desafios de equilibrar as corporeidades de línguas como a LIBRAS e do português na construção cênica?
O maior desafio foi equilibrar as línguas sem que uma anulasse a outra. A gente trabalhou muito para que tanto a LIBRAS quanto o português tivessem potência, que se encontrassem e se atravessassem no palco. É um exercício de corpo e escuta — de não impor uma língua sobre a outra, mas fazer elas dançarem juntas.
O espetáculo apresenta como principal cenário uma cozinha, criando esse ambiente familiar e aconchegante para o público. Qual experiência vocês queriam proporcionar com a escolha por um ambiente afetivo como esse?
A cozinha é o lugar do encontro, da memória, da conversa, do cheiro, da comida compartilhada. É um espaço afetivo que todo mundo tem alguma lembrança. A gente quis trazer essa intimidade para o palco, convidar o público a se sentir em casa, próximo de nós.
Além de ser um espetáculo bilíngue, vocês contam com uma diversidade de recursos de acessibilidade comunicacional (como outras intérpretes e sessões com audiodescrição). Como vem sendo a incorporação desses recursos na poética do espetáculo e a recepção dos públicos surdos, cegos e ouvintes ao trabalho de vocês?
A gente não quis tratar a acessibilidade como algo separado, mas como parte da poesia do espetáculo. As intérpretes, a audiodescrição, tudo entra no jogo cênico. Isso abre portas para que pessoas surdas, cegas e ouvintes vivam a experiência juntas, cada uma do seu jeito. E a recepção tem sido linda, porque o público sente que foi pensado e incluído desde o início.












