O público no palco | Entrevista – Claudio Amado

Ouça essa notícia
|
Imagem – Divulgação
De 03 de maio a 1º de junho, o espetáculo Improvisa comigo esta noite cumpre temporada no Centro Cultural Justiça Federal, na Cinelândia (RJ), com sessões sempre às sextas e sábados às 19h. Sozinho no palco, o ator Claudio Amado conta com a participação espontânea da plateia para criar cinco cenas inéditas e improvisadas em cada apresentação. Os espectadores, que se tornam coautores do espetáculo, têm a oportunidade de contribuir com a dramaturgia de diversas formas: seja cantando uma canção em uníssono, representando a voz de Deus, movimentando o corpo ou utilizando a lanterna de seus celulares.
Apesar de ser uma peça interativa, participa quem quiser. As cenas são criadas em parceria com o coletivo dos espectadores de cada noite. Ninguém é escolhido ou chamado ao palco. Todos interagem sentados em suas poltronas. Não existe “cena de plateia”, mas sim “cenas com plateia”. É uma obra teatral única e coletiva, onde o autor e o intérprete estão presentes e criando tudo ali juntos, na hora.
Improvisa comigo esta noite estreou em novembro de 2023 na Colômbia, durante a 5ª edição do CUNDIMPRO, festival internacional de improvisação, e agora estreia oficialmente no Rio de Janeiro em celebração aos 20 anos de atividades da Cia. Teatro do Nada, grupo pioneiro do Teatro de Improviso no Brasil. Segundo Claudio Amado, que fez ensaios abertos em escolas cariocas antes de embarcar para a Colômbia, o maior diferencial do espetáculo é a parceria constante do público com o ator na construção das cenas. Em conversa com o editor-chefe do Quarta Parede, Márcio Andrade, Claudio Amado conta sobre sua trajetória como ator e diretor e sobre as particularidades deste espetáculo.
Claudio, antes de tudo, queria que você fizesse uma apresentação da tua trajetória e como o improviso chegou para você como modo de criação.
Sou ator, diretor, produtor, professor de Impro, narrador, consultor de Improvisação Aplicada e escritor. Me formei em Artes Cênicas/Interpretação Teatral pela Uni-Rio em 1997. Já era ator profissional quando o Impro chegou em 2003 no RJ com a Gabriela Duvivier, atriz carioca que havia estudado com Keith Johnstone (21/02/1933 – 11/03/2023), diretor e dramaturgo inglês que foi um dos criadores do teatro de improvisação junto com Viola Spolin. Gabriela reuniu alguns atores e começou a treinar Impro. Esse grupo de treinos virou a Cia Teatro do Nada, que estreou em janeiro de 2004 na Casa da Matriz fazendo seu espetáculo de mesmo nome, “Teatro do Nada”, dirigido por ela e com a licença oficial do International TheatreSports Institute para fazer Teatro-Esporte no RJ.
Em 2004, fundou a Cia Teatro do Nada, pioneira no Teatro de Improvisação no Brasil. Como era o cenário para o teatro de improvisação naquela época e como você percebe a recepção para ele atualmente?
Naquela época não havia espetáculos de Improvisação, então o Teatro do Nada e o espetáculo Z.É. – Zenas Emprovisadas foram os primeiros no RJ. Foi uma novidade no meio teatral na época e impulsionou outros grupos e eventos de Impro na cidade. Hoje em dia, principalmente depois da pandemia, houve o surgimento de mais grupos, eventos e campeonatos. Atualmente existe um movimento mais regular de Impro na cidade, com Comedy Clubs e alguns grupos de pesquisa constante. Apesar dos jogos de improviso serem os mais conhecidos, existem outros formatos e estilos no Impro: no Teatro do Nada fazemos formato longo desde 2009. Existem espetáculos infantis de Impro, como o “Era Uma Vez” do grupo Konga, e o “Quebra-Cabeça – Em busca da peça que falta” do Tablado. Tem o grupo de ex-alunos meus, o Baby Pedra, que faz Impro com teatro de bonecos. Impro não é apenas jogos rápidos de piadas, e sim um processo cênico colaborativo e espontâneo que pode abranger todos os gêneros teatrais, dependendo da pesquisa e seriedade de cada grupo.
Nesses 20 anos de existência, foram diversos os espetáculos desenvolvidos pela Cia. Teatro do Nada e a participação em diversos festivais. Para você, como costumam surgir os disparadores para a criação de um espetáculo de improviso? De uma imagem, uma pergunta, um sentimento, um improviso em si…?
Não existe uma origem em comum, cada espetáculo parte de alguma proposta inicial (um formato pré-existente, um gênero específico, um tema etc). O Teatro do Nada começou fazendo Teatro-Esporte, formato do Keith Johnstone, e a partir de 2009 passamos a investigar os formatos longos (o 1º espetáculo long form no Brasil foi “Dois é Bom”, de 2009). Depois vieram “Segredos”(2010), adaptação do formato Secrets do grupo Tongue & Groove da Filadélfia/EUA, no qual usávamos segredos verdadeiros do público, escritos anonimamente por eles antes da sessão, como inspiração para o espetáculo. Em “Rio de Histórias” (2017), gravávamos depoimentos em áudio dos espectadores com histórias pessoais sobre a cidade do RJ, e depois esses áudios eram ouvidos no início da apresentação.
Cada um desses formatos (chamamos de formatos porque, apesar de não haver um texto fixo no Impro, existem estruturas fixas para a construção cênica de cada um deles) tem sua própria forma de coletar e processar as informações do público, assim como sua própria estrutura temática e dramatúrgica. Como o Nada sempre foi um grupo de atores, diretores e escritores, o formato longo era mais próximo dos nossos interesses artísticos, pois permite uma dramaturgia mais elaborada (como improvisar um espetáculo inteiro a partir de apenas uma palavra como sugestão inicial). No caso de IMPROVISA COMIGO ESTA NOITE, a premissa era criar um espetáculo solo de improvisação na qual a plateia pudesse participar como co-autora das cenas de diferentes formas.

Imagem de arquivo do Teatro do Nada (RJ) | Imagem – Divulgação | #ADnoTextoAlternativo #4ParedeParaTodes
Você também oferece cursos de formação em improvisação a partir de uma variedade de referências. Como esses processos formativos vêm contribuindo para sua própria formação como artista das técnicas de improvisação?
Para ensinar, você realmente precisa dominar o assunto. Comecei dando aulas de Impro pouco tempo depois da criação do Teatro do Nada, inicialmente como uma forma de estudar/praticar o Impro. Fiz vários cursos com improvisadores estrangeiros e sempre anotei e incorporei todos os jogos e exercícios que aprendi, construindo assim um repertório de jogos bastante amplo. Com esse conhecimento todo, escrevi 2 livros sobre Impro, “Os Princípios da Improvisação – 40 Jogos para Aprender a Improvisar” (2016); e “Improvisação Avançada – O Formato Longo” (2022), e também fundei a Spontanea (www.spontanea.com.br) consultoria que trabalha com Improvisação Aplicada a treinamentos corporativos e desenvolvimento profissional e humano para não-atores.
Em Improvisa comigo esta noite, você propõe outros lugares para o espectador a partir modos de interação que estão além do riso, das palmas… Como surgiu o interesse nessa proposição e como foi o processo de concepção de cenas que estimulam essa participação?
A ideia surgiu em 2017, durante a temporada do espetáculo DOIS É BOM no porão do Laura Alvim, quando o público participou espontaneamente de 2 cenas, fazendo uma “figuração” na história. A partir daí ficou a ideia de criar um formato de espetáculo no qual o público pudesse participar e interferir na criação das cenas durante todo o tempo, e não apenas sugerindo temas ou informações no início dos jogos de improviso, como acontece em geral no teatro de improviso.Durante a pandemia comecei a pesquisar as possibilidades de ações do público em eventos coletivos: estádios, shows, igrejas, comícios, etc. Em 2023 surgiu o convite para participar do V CUNDIMPRO, festival de improvisação na Colômbia, e então aconteceu a estreia do espetáculo no festival. Antes de viajar, fiz 3 ensaios abertos em escolas cariocas para testar a receptividade da proposta e o espetáculo se revelou extremamente comunicativo e diferente, pois convida os espectadores a contribuir ativamente nas cenas como nunca se viu até então em um espetáculo teatral. Importante dizer que participa quem quiser. Se alguém quiser só assitir tudo bem. Não vou escolher ninguém nem descer na plateia. Não tem cena de plateia, e sim “cenas com plateia”.
Serviço
Onde: Centro Cultural Justiça Federal
Endereço: Avenida Rio Branco, 241 – Centro (estação Cinelândia do metrô/VLT)
Quando: de 3 de maio a 1º de junho
Dia/Hora: sextas e sábados às 19h
Ingressos: R$30 inteira / R$15 meia-entrada
*meia-entrada para idosos, estudantes, classe teatral, professores da rede pública ou particular, PCD, LGBTQIA+ e indígenas.
Venda de ingressos: pelo Sympla e na bilheteria do centro cultural a partir das 17h
Capacidade: 141 lugares
Duração: 60 minutos
Classificação Etária: 12 anos
Instagram: @improvisacomigoestanoite