#14 Confrontos | Cultura Negra é Escola, Não é Crime

Arte – Rodrigo Sarmento
Por Kalor Pacheco[1]
Crítica cultural, Comunicadora social e Gestora no Centro Cultural A Casa de DonArlinda (PE)
‘1890 – Lei dos Vadios e Capoeiras – os que perambulavam pelas ruas, sem trabalho ou residência comprovada, iriam para a cadeia. Eram mesmo “livres”? Dá pra imaginar qual era a cor da população carcerária daquela época? Você sabe qual é a cor nos presídios hoje?’ (Leandro Ribeiro)
‘Crioulo cantando samba / Era coisa feia / Esse é negro é vagabundo / Joga ele na cadeia (…) Negro jogando pernada / Negro jogando rasteira / Todo mundo condenava / Uma simples brincadeira / E o negro deixou de tudo / Acreditou na besteira / Hoje só tem gente branca / Na escola de capoeira’
(Geraldo Filme)
Com a lua, chegávamos na quinhentista Vila dos Palmares, povoado datado de 1577, para assistirmos à apresentação do Cavalo Marinho[2] Estrela de Ouro[3] no festival Sesc Aldeia Yapoatan. O cenário era a Igreja do Rosário dos Homens Pretos, historicamente conhecida no Brasil por consorciar ao catolicismo irmandades negras em uma organização social a fim de mitigar querelas decorrentes do violento sistema escravagista em vigor no período colonial.
Daquele local, um dos primeiros solos a serem pisados pelos europeus, hoje restam as ruínas da igreja católica, que serviram de cenário para a apresentação naquele dia 28 de setembro de 2019, quando o grupo viera de Condado, zona da mata norte setentrional de Pernambuco, para brincar em um dos polos do festival, através do circuito Palco Giratório.
O cavalo marinho é um manifestação popular tradicional do ciclo natalino que integra majoritariamente em sua concepção geral as linguagens de música, dança e teatro, trazendo em sua matriz as festas dos trabalhadores rurais, representados nos movimentos corporais das figuras (como são chamados as personagens do brinquedo).
Para Érico José Souza de Oliveira, esta movimentação calcada na força das pernas e no bater percussivo dos pés no chão nos induz a duas matrizes culturais muito evidentes: a matriz africana e a matriz indígena, sobretudo, no tocante à sensação de que é a terra que puxa o corpo para baixo, o que causa a flexão dos joelhos, que agem como uma mola.[4] Os corpos moviam-se em consonância com as toadas (cantos), apresentadas pelo Mestre Biu Alexandre acompanhado pelo banco de músicos
De costas para as ruínas da igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, e de frente para o povo, estava o banco (onde os músicos e cantores ficam), composto por Cláudio Rabeca (rabeca), José Severino (pandeiro), José Marques (mineiro) e Pino (Baje). A página do Cavalo Marinho Estrela de Ouro de Condado no site do Palco Giratório 2019 destaca:
Ao som da rabeca, do pandeiro, da bage e do mineiro inicia-se com trupés e pisadas e segue com as entradas e saídas das figuras que podem ser de animais ou trajando máscaras de couro, papel marchê, goma, carvão. Durante a brincadeira surgem várias figuras que nos trazem a reflexão sobre as relações de poder, opressor e oprimido, patrão e empregado.
Com suas bexigas percussivas, Mateus (Sebastião Silva, o Mestre Martelo) e Bastião (Mestre José Mário) iam arqueando a roda, cada um de um lado, sob a vista e as toadas do Mestre Biu Alexandre. Filho do mestre, Aguinaldo Roberto conduzia os oito galantes nos trupés. A platéia era formada, em sua maioria, pela comunidade da Vila dos Palmares[5], e alguns visitantes e gestores culturais, sendo marcante a presença das crianças que caíram na dança.
Quando a apresentação do Cavalo Marinho Estrela de Ouro em Muribeca estava chegando ao fim, Bastião nos convocou a entrar na dança do trupé. Mateus e Bastião são responsáveis por cadenciar a brincadeira, e isso inclui interagir com o público nas apresentações. Procurei fazer render a emoção e aprendizado corporal da experiência vivenciada naquela praça, ao presenciar a vibração dos passos, o compasso do banco, os timbres dos gogós nas toadas e, especialmente, a percussão praticamente cardíaca das bexigas de Mateus e Bastião.
Ao final do espetáculo, enquanto o grupo não embarcava no ônibus de volta para Condado, no qual conseguimos uma carona oferecida pela produtora do espetáculo, Íris Campos, procurei trocar algumas palavras com Seu Sebastião, que em cena encarna o negro Mateus: mundialmente conhecido como o mestre Martelo.
Aos 83 anos, dança, rima e interpreta o Mateus no Estrela de Ouro. Seu Sebastião me contou, enquanto murchava as bexigas de boi, que são instrumentos percussivos do Mateus, que brinca Cavalo Marinho desde os 9 anos. Encarnou a figura do Mateus desde o ano de 1956, quando tinha 18 anos, em um Urso de Carnaval.
Contei ao mestre Martelo que o ouvi contar essa história num telão de cinema, quando assisti ao filme Mateus (PE, 2018, 72’), de Déa Ferraz, no Cine São José, em Afogados da Ingazeira, município do Sertão do Pajeú[6], que fica a 347 Km de Condado, na Zona da mata, e cerca de 354 Km da Vila dos Palmares, na Zona Rural da Região Metropolitana do Recife, onde nos encontrávamos naquele instante.
No longa, os atores Odília Nunes e Cláudio Ferrário partem de fusca em uma jornada circense que tem início na Praça do Marco Zero, no bairro do Recife, rumo à região canavieira para encontrar quatro Mateus pernambucanos: Zé de Bibi, Mocó, Seu Luis e Martelo.
No escuro do cinema, era a primeira vez em que eu me tornava mais íntima da figura do Mateus, através do trabalho dos palhaços Bandeira (Odília) e Jurema (Cláudio), que visivelmente interagiam de corpo e alma com os multiartistas populares do Cavalo Marinho no documentário, conversando com eles, e depois contracenando em um picadeiro improvisado na rua, à céu aberto.
No debate pós-filme, Odília Nunes nos contou que uma das grandes mensagens que o filme documenta é a recepção de Sebastião Martelo para com a presença feminina na brincadeira de Cavalo Marinho. O Mateus é a personagem que traz consigo a sabedoria e a alma da brincadeira. É a figura mais experiente, responsável por guardar toadas e o próprio andamento do Cavalo Marinho.
Naquele encontro com Odília e Cláudio, o mestre Martelo revelou um capítulo muito importante da história do brinquedo, discorrendo sobre o fato de a personagem Catirina ser apenas interpretada por homens.
“Dizem que foi da Senzala
E eu acho que foi da Senzala mesmo
Porque não existia, ninguém falava nessas brincadeiras
Só pode ter sido das senzalas…
Dizem por aí os mestres (eu não sou nada), que o senhor pediu aos negros da senzala uma brincadeira.
Aí os negos pegaram a brincar
Aí chegou o dia de dar o ensaio geral
Hoje não ensaia mais, o povo diz “já sei de tudo”
Mas no primeiro sábado de Santana, começava a ensaiar e ia até o fim.
Se desse pra dar ensaio geral dava, se não desse brincava um sábado ou dois de agosto
Ai o senhor mais a sinhá veio espiar, achou bonito.
Aí pegou dinheiro e deu pra eles comprarem as coisas
Aí a negra, que era empregada, foi brincar de Catirina
Aí o senhor ficou com raiva dela,
Ela foi vendida em duas músicas:
“Mateus, lá vem Catirina / a negra da perna fina”
Aí ela chega, o Capitão pergunta:
“Você é mulher de quem?”
Olha aí…
Aí ,quando é depois:
Catirina, minha amiga, meu senhor vai te vender / Tu vai lá pro Rio dos Peixes, Nunca mais ninguém vai te ver / Catirina minha amiga, vai vender teus algodão / Tu vai lá pro Rio dos Peixes, nunca mais se vê mais não”

Debate após exibição de ‘Mateus’ | Imagem – Sara Andrade | #4ParedeParaTodos #PraTodoMundoVer – Imagem colorida de um palco amplo, em que se vê duas mulheres sentadas diante de uma plateia. Uma delas fala com um microfone em suas mãos, a outra ouve. Ao fundo, uma tela de cinema com a arte de divulgação do festival em questão.
Como resultado dos meus encontros com o Mestre Martelo e com todo o espetáculo Cavalo Marinho Estrela de Ouro de Condado e seu histórico e desdobramentos, percebo que a circulação de agremiações como esta tem o poder de lecionar uma aula sobre o Brasil, de um modo que ainda não se vê nos livros didáticos.
Uma lição interpretada, dançada, tocada e cantada por brincantes e artistas vinculados às raízes deste continente e também de África. A legislação brasileira[7] prevê que este tipo de conteúdo seja abordado nas salas de aula; importante conquista da luta negra e indígena no país para que as narrativas da maioria da população não sejam soterradas por uma historiografia ficcionalizada.
Atravessei 25 quilômetros[8] até a Muribeca Rua para ver o Estrela de Ouro, em busca da aula que não tive na educação pública. Até agora, permaneço em estado de aprendizagem. Ao passo que reflito e redijo este texto, cada vez mais compreendo que os espaços públicos, como ruas e praças, se reafirmaram nos últimos séculos como instituições de ensino para a maioria da população brasileira.
Nesse trajeto, caminham na contramão das tradicionais casas de espetáculos e universidades, territórios ainda restritos e elitizados, com uma tímida presença das camadas mais populares – uma vez que pessoas residentes nos subúrbios muitas vezes não acessam a estes espaços, seja por obstáculos financeiros, educacionais, ou mesmo de mobilidade urbana.
Contrariando o ostracismo, que assola as centenas de grupos de cultura popular fora dos ciclos festivos, o Cavalo Marinho Estrela de Ouro tem difundido o seu conhecimento em diversos territórios para além de Condado, a exemplo da circulação por quinze estados brasileiros em virtude do Palco Giratório[9] e de uma turnê com incentivo do Funcultura que percorreu seis escolas nas cinco macrorregiões de Pernambuco[10].
Quando se apresenta em instituições de ensino, como é o caso da aula-espetáculo No Passo e no Compasso do Cavalo Marinho, o Estrela de Ouro põe em prática a Lei Federal Nº 11.645, de 10 março de 2008, que introduz no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

Aula-espetáculo no Colégio Caio Pereira | Imagem – Pedro Menezes | #4ParedeParaTodos #PraTodoMundoVer – Imagem colorida de três personagens do cavalo-marinho usando roupas coloridas e apontando seus braços e olhares para o alto. Ao fundo, vários estudantes assistindo à apresentação.
No último ponto da turnê estadual e projeto cultural No Passo e no Compasso do Cavalo Marinho, assisti junto aos alunos da Escola Estadual Caio Pereira, localizada no bairro do Alto José Bonifácio, na Zona Norte do Recife, a aula-espetáculo do Cavalo Marinho Estrela de Ouro. A apresentação foi breve, e não foi possível avançar muito na dramaturgia do brinquedo.
Se nas sambadas do Estrela de Ouro, no município de Condado, a brincadeira chega a durar seis horas, e dezenas de figuras são encenadas até o sol raiar, algo que ainda desejo conhecer, naquela apresentação na escola estadual só deu tempo para a aparição de uma única figura, o policialesco Soldado da Guarita.
O Soldado da Guarita move-se para violentar em cena os negros Mateus e Bastião, responsáveis pela festa contratada pelo Capitão (Mestre Biu Alexandre), na intenção de levá-los presos e acabar com o evento. Por se tratar de uma apresentação para um público formado majoritariamente por adolescentes negros do Alto José Bonifácio, periferia do Recife, a encenação policial ficcionalizada na Escola Caio Pereira, para mim, soou realista demais.
Lembrou-me o tanto de repressão militar vivida pela juventude negra, sobretudo os mais pobres e os mais retintos, as mulheres e as dissidentes sexuais. Fiquei encantada em ver o quanto a performance corporal e verbal de Mateus e Bastião no terreiro transformam os sentidos, colocando-os como verdadeiros anti-heróis, em relação à polícia.
Conforme nos apresenta a tese A roda do mundo gira: um olhar etnocenólogico sobre a brincadeira do Cavalo Marinho Estrela de Ouro (Condado – Pernambuco), do Dr. Érico José, ator-pesquisador do Cavalo Marinho[11], “o soldado da guarita, o padre, o vigia do sítio, o Fiscal, a Velha, o Diabo, entre outros, fazem parte desta ala de opressores travestidos em fracos e perdedores”.
Soldado da Gurita: É a autoridade, o militar, o representante da polícia. Usa uma espada e, às vezes, um revólver na cintura e o quepe característico de um soldado, além de uma máscara quase sempre feita de couro de bode, repleta de pêlos. Os três negros não gostam de sua presença na festa, principalmente porque ele é chamado pelo capitão para prendê-los, por causa da bagunça que causam, impedindo o dono da festa de continuar seu baile.
O crime de Vadiagem[12], citada na epígrafe deste texto e também dissertado por MARQUES (2012)[13], ao lado de notícias mais recentes nos veículos de jornalismo, aponta que a condição da população negra e empobrecida no Brasil segue criminalizada bem como suas respectivas manifestações culturais: da capoeira ao passinho de brega-funk; do maracatu ao break.
A nível nacional, em dezembro do ano passado, foi noticiada a morte de nove jovens no baile funk DZ7[14], em Paraisópolis, segunda maior favela de São Paulo, em ação violenta da polícia. O site Ponte Jornalismo publicou um vídeo em que um policial militar, com um bastão de madeira, na saída do baile, intimidava e batia em dezenas de jovens que haviam ido ao local com a intenção de se divertir. Esse racismo estrutural é institucionalizado pelo estado brasileiro, sendo a polícia uma de suas principais instituições.
Em eventos frequentados pela classe média branca, a exemplo dos forrónejos[15], a violência policial é praticamente nula; entretanto mantém-se a truculência nas abordagens policiais em manifestações culturais afro-brasileiras, existente nos seios das comunidades mais empobrecidas, desde o período colonial até a contemporaneidade.
Ademais, em Pernambuco, à revelia da política cultural de salvaguarda do patrimônio cultural e histórico pelo Estado, persiste o racismo estrutural, institucionalizado na política de segurança pública, e que nega a maioria da população a liberdade de expressão garantida pela constituição. Houve, no dia 1º de fevereiro de 2014, a culminância de um racismo institucional cometido pela 2º Batalhão de Polícia Militar de Pernambuco (2º BPM/PE) em Nazaré da Mata, Zona da Mata Norte de Pernambuco.
Na ocasião, foi determinado o toque de recolher aos maracatuzeiros às 2h, ato contestado pela sociedade civil organizada junto ao Ministério Público, em audiência, que resultou e uma autorização para que a brincadeira seguisse, conforme manda a tradição, até o amanhecer. Também contra um grupo percussivo, uma abordagem policial desproporcional[16] resultou na apreensão de instrumentos no litoral do Paraná.
Na capital pernambucana, há pouco mais de um ano, às 22h do dia 25 de janeiro de 2019, acontecia no bairro dos Torrões, zona oeste do Recife, uma reunião de jovens para ensaiar o passinho, dança que acompanha o movimento do brega-funk pernambucano. Naquele horário, o estudante Gustavo, 18 anos, foi atingido no olho direito por uma bala de borracha da Polícia Militar de Pernambuco[17], o que destruiu totalmente seu globo ocular, conforme registra as jornalistas Mariama Correia e Lenne Ferreira:
“No meio do caminho, um policial mandou parar. Ele obedeceu. Olhou para trás. Sentiu o sangue escorrer pelo rosto. O policial havia disparado. A bala de borracha atingiu o olho direito de Gustavo.”
A cegueira de Gustavo, desencadeada há um ano por um policial, infelizmente está longe de ser o episódio mais atual de repressão às manifestações culturais das camadas populares na capital pernambucana. No mês passado, o dançarino William da Silva, de 19 anos, foi morto com um tiro no peito disparado durante uma ação da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE)[18] em um encontro de passinho realizado bairro do Ibura, periferia na zona sul do Recife.
No início deste mês, uma abordagem arbitrária da Guarda Municipal do Recife ao jovem negro, técnico em Segurança do Trabalho e Analista em Logística, Márcio Clei, na Terça Negra, tradicional evento realizado no Pátio de São Pedro, desencadeou uma revolta popular cujos gritos de “racistas” e “fascistas”, entoados por dezenas de pessoas inconformadas pela situação, foram respondidos pelos agentes de segurança com tiros e gás lacrimogêneo[19].
Não apenas nas instâncias do poder Executivo, com sua política de Segurança Pública opressivas contra os pretos e pobres, os projetos de repressão ao brega-funk também é alvo do poder Legislativo, com adeptos na bancada conservadora da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco.
Após a apresentação do Projeto de Lei 494/2019, da deputada estadual Clarissa Tércio (PSC), que visa proibir o passinho nas escolas públicas de Pernambuco[20], os artistas da cena Brega-Funk demonstraram resistência através de seu posicionamento em forma de música[21]. Em “Passinho não É Crime”, os MC’s Maneirinho na Voz, Shevchenko e El Locco cantam:
Se passinho for crime, me condene
No ritmo do frevo o passinho fica gostoso, amor
Ao som do maracatu, ao som do maracatu, ao som do caboclinho, ao som do maracatu, do boi zebu, do papangu
Respeita os moleke do passinho
Não sou bandido, não sou traficante, só quero mostrar cultura pro Brasil
Não sou bandido, sou de pernambuco, só quero mostrar a cultura pro Brasil
S. Rose[22] coloca que a polícia, as forças militares, entre outros tipos de valentões e seguranças, agem para defender os interesses da elite. Ainda, segundo Rose, o termo Elite tem por significado aqueles capazes de deter a riqueza e o poder herdado por via de herança, posição social, perspicácia nos negócios ou todas as três coisas. A quem interessa que a juventude negra e periférica reverbere com a liberdade do seus corpos o passinho, os caboclinhos, o break ou o cavalo marinho?
Mesmo nas manifestações populares tradicionais, como a performance dos corpos de Bastião e Mateus, no meio da encenação da aula-espetáculo a que assisti na Escola Caio Pereira, houve determinados movimentos sensuais em encontro com a arma fálica[23] do Soldado da Guarita, em perseguição aos negros ali representados. A quem interessa que estes jovens periféricos não ocupem os espaços públicos como Marco Zero, no bairro do Recife, a cada dia mais gentrificado, ou o Pátio de São Pedro, no bairro de São José[24], e que passa também pela especulação da indústria de uma economia criativa [25]estéril?
A quem interessa que, no centro e na periferia, a exemplo da comunidade do UR-7, onde foi assassinado William, adolescentes negros sintam-se inibidos em andar nas ruas?
As formas de resistências são várias, elas consistem na insistência em que as classes populares permaneçam no espaço público, brincando e festejando. O ano todo e, de modo mais acentuado, em ciclos como o Carnaval e o Natal. BRUSANTIN (2011) apresenta em sua tese que, na Comarca de Nazareth, atual município de Nazaré da Mata, zona da mata norte, em 1871, nas matas entre os engenhos, longe das vistas dos senhores, os escravos praticavam o brinquedo do Maracatu e do Cavalo Marinho dando gritos de Viva à liberdade[26]. Sobre o maracatu ambientado no ciclo carnavalesco, BORGES (2005) indica:
“O carnaval historicamente sempre foi considerado a maior manifestação de cultura popular, momento em que se aproveitam para tentar subverter a ordem. Por isso sempre foi uma festa temida, reprimida, cooptada, extremamente conflituosa e ambivalente.”[27]
No canal da TV Viva há dois vídeos: um filmado no final da década de 1980, com o Cavalo Marinho Estrela de Ouro de Condado[28], e outro gravado no ano de 1993 no Recife e região metropolitana, acerca das “Galeras”[29], relacionando a dança break aos grupos de jovens que tomavam conta dos bailes nas periferia.
Em ambos os documentários televisivos, é a população negra que, ali, usufrui de sua liberdade de poder brincar em praça pública sem que isso seja apenas para inglês ver[30]. Muito mais que nas caixas cênicas, são nos terreiros, nos becos e nos largos onde acontecem as manifestações culturais afro-brasileiras, criada por ex-escravos e também por descendentes de pessoas escravizadas que tomaram de volta a sua liberdade através das resistências quilombolas cujas práticas até hoje ressoam na luta anti-racista.
Ao longo dos séculos, o povo preto reinventou as suas manifestações culturais, integrou as linguagens – como é o caso do hip-hop com seu break (dança), batalhas (rima) e graffiti (artes visuais) – e ocupou o espaço público, mas, agora, na condição coletiva de senhores e senhoras de si, autores e protagonistas.
As rodas de coco, de capoeira angola, e também os encontros de passinho, assim como o Cavalo Marinho, me fazem acreditar que o espírito coletivo e a sapiência individual de cada pessoa oprimida reinventam, através da arte e da coletividade, novas maneiras de confrontar a expectativa de vida negativa que a sociedade e o Estado projetam sobre as nossas diversas vidas, operacionalizada pelo racismo estrutural.
Quando observamos o Cavalo Marinho, um b.boy ou um grupo de passinho de brega-funk se apresentar, lemos um pouco mais sobre o capítulo da história da formação da população brasileira contada sob a perspectiva do próprio povo, através de sons e movimentos comuns ao cotidiano das classes populares e dos trabalhadores.
Através da música, da dança, do design de moda e figurino, há uma reinvenção da autoestima da favela, que apesar de o Estado virar as costas, se sustenta através da arte. Se no passinho há o orgulho por portar as camisetas da 24por48[31], as sandálias Kenner, as bermudas Cyclone, as correntes de prata e os óculos espelhados, também nos figurinos das culturas populares mais tradicionais também há a orgulho em carregar consigo a lança e a brilhosa gola do maracatu; os espelhos pregados nas fantasias no cavalo marinho; o cocar e o estandarte dos caboclinhos.
Se por um lado está documentado, através do Estrela de Ouro ou do Maracatu Leão Coroado, ambos de Condado, os caminhos da ancestralidade negra e indígena, nos remetendo aos terreiros de candomblé, à zona canavieira de Pernambuco ou aos povos originários; de outro lado as linguagens contemporâneas da dança, a exemplo do passinho no movimento brega-funk, também atualizam as narrativas acerca do povo e sobre os novos saberes e fazeres das matrizes afro-brasileira e indígena. As culturas populares atualizam-se ao passo que debatem educação, comportamento, sexualidade e outros valores atualmente em voga na sociedade.
Naquele último domingo de setembro, dia do Festival Sesc Aldeia Yapoatan, estavam lotadas as igrejas evangélicas que encontramos à caminho da praça situada em frente às ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, onde se apresentava o Estrela de Ouro.
A massificação do pensamento fundamentalista religioso no Brasil, alçado em escalada por igrejas neopentencostais nos territórios populares, influencia o afastamento de muitas crianças, jovens e adultos do terreiro da religiosidade negra e indígena e, consequentemente, deslocam esses brincantes evadindo-os do seio da cultura popular. No final de 2019, a mãe Beth de Oxum também foi perseguida por deputados estaduais da bancada fundamentalista neo-pentecostal na Assembleia.[32]
O mesmo acontece relacionado ao movimento brega-funk e ao passinho, pois as danças “do mundo” não são aceitas em determinadas denominações religiosas, criando cisões nas favelas, provocando sub-divisões entre indivíduos que poderiam se unir em prol de melhores condições de vida para a coletividade, visto que passamos todos pelas mesmas dificuldades nestes territórios pouco assistidos pelo estado.
Quando não proíbe totalmente, as religiões protestantes esvaziam o sentido de manifestações como a capoeira e o maracatu, a fim de atrair a juventude com elementos da cultura negra e conduzí-la a viver sob a égide do pensamento cristão[33].
Existem atos de violência policial em repressão à cultura negra desde a capoeira, como diz a música de Geraldo Filme, na abertura deste texto. Da mesma forma, esses episódios estão registrados em diversos textos acadêmicos, notícias jornalísticas, outras canções e mesmo relatos pessoais.
Também foram, e ainda são, reprimidos, o coco, o samba, o maracatu, o funk, o brega-funk, o hip-hop, o candomblé. Corre a todo vapor um projeto de dominação civilizatória euro-cis-heteronormativa e patriarcal que se dá através da supressão das identidades não-brancas, não-binárias, femininas e sexodissidentes, reforçada pelo preconceito e estereótipos relacionados às religiões e tudo o quanto tiver matriz africana e indígena.
A instituição opera e sofistica o racismo, a partir do momento de que é supostamente diversa na política pública de cultura, mas explicitamente controversa no campo da segurança pública (qual é a cor da população carcerária?), da saúde pública (a quem a violência obstétrica mais afeta?), da educação pública (quem mais fica de fora das universidades federais?), entre outras pastas da administração que, ao invés de públicas, servem aos interesses da elite.
Hoje, os mestres mantêm a sua manifestação no terreiro a duras penas, devido à precariedade social instrumentalizada pelo Estado em todos os níveis, o que resulta na diminuição e sucateamento dos grupos de culturas populares. Entendendo que se trata de produção artística que não vem sendo inventariada na história da arte, a vivência prática dos brincantes das culturas populares ajuda a consolidar essas manifestações culturais enquanto ciências sociais e políticas que atravessam o tempo e com o tempo se renovam e disseminam.
Notas de Rodapé
[1] Nasci e cresci no município de Camaragibe, subúrbio da Região Metropolitana do Recife, onde pude me aproximar da cultura popular e seus agentes, vivenciando o maracatu de baque solto (Maracatu Rural Cambinda Dourada de Camaragibe), onde brinco e assessorei em editais de cultura; e a tradição do Urso Mimoso de Camaragibe e do Boi Alvirrubro de Camaragibe. Amiga do Mestre Ligeirinho, fundador do Boi dos Dendê e dos Caboclinhos Caetés de Camaragibe, com quem tive a honra de em 2017 começar a aprender a tocar gaita de caboclinhos e as toadas de boi. Trabalho no campo da comunicação e cultura desde 2012, com formação parte acadêmica e parte empírica, nos campos de criação em artes visuais (videoarte, performance) e audiovisual (roteiro e direção), crítica cultural e gestão pública, na qual atuei entre 2017 e 2018 como Diretora de Promoção da Igualdade Racial, com atenção a Cultura Popular, na Fundação de Cultura, Turismo e Esportes de Camaragibe, além de ter presidido o Conselho Municipal de Cultura do mesmo município (2017).
[2] Recebi a primeira transmissão oral sobre o folguedo do cavalo marinho através do dançarino e músico Helder Vasconcelos. O relato está no ensaio Adeus à Pessoa na revista Outros Críticos. ed. 5. O Artista Veste Máscaras (2015), e voltei a encontrar o mesmo artista para ouvir mais sobre a brincadeira e até mesmo experimentar a dança na Escola O Poste de Antropologia Teatral, onde cursei a sua disciplina, intitulada Pulso-Presença. Helder ensinava os trupés e passávamos a noite tentando chegar, imaginariamente, à Condado, através da dança. Depois disso, visitei a Casa da Rabeca no Dia de Natal, onde a família salustiano recebe na Cidade Tabajara os demais cavalos marinho do estado em um grande encontro. A segunda e a terceira vez que vi e brinquei um pouco com o cavalo marinho estão registradas aqui nesse texto. OUTROS CRÍTICOS. Adeus à Pessoa. Disponível AQUI. Acesso em: 19 fev. 2020.
[3] Com quarenta anos de existência, o Cavalo Marinho Estrela de Ouro é o único, hoje, com quatro gerações brincando juntas (um bisneto, oito netos e cinco filhos do fundador e mestre Biu Alexandre). O Estrela de Ouro é Patrimônio Vivo de Pernambuco, título outorgado em 2018 pela Fundarpe/Secretaria de Cultura de Pernambuco. Ministra oficinas de cavalo marinho (música, dança, máscaras, bordado de peitorais, confecção de arcos, etc.) em todo o país. Participou de inúmeros festivais, mostras e eventos na zona da mata norte, de onde se origina, em outras macrorregiões do estado e em todas as regiões do Brasil. Recebeu vários prêmios e honrarias. Sebastião Silva, o mestre Martelo, é o Mateus mais antigo em atividade, hoje com 82 anos de idade e mais de cinquenta anos executando o mesmo papel/personagem. O município do Condado é conhecido como a Terra do Cavalo Marinho.
[4] OLIVEIRA, Érico José Souza de. A Roda do Mundo Gira: um olhar etnocenológico sobre a brincadeira do Cavalo Marinho Estrela de Ouro (Condado – Pernambuco) / Érico José Souza de Oliveira. – 2006.
[5] Em 1850, o território que reconhecemos hoje como Recife e Região Metropolitana (ou Grande Recife) continha em si a freguesia de Muribeca, atualmente conhecida como Vila dos Palmares, à sul da RMR. Distante das freguesias (hoje, bairros) considerados Centrais (Recife, Santo Antônio e Boa Vista), localidades como Muribeca abrigavam uma população que não dispunha de moradias melhores que as casas de taipa. De acordo com estatística publicada em 11 de janeiro de 1873 no periódico Diário de Pernambuco, a Muribeca tinha uma população de 7.187, das quais 6.178 eram homens e mulheres livres e as demais 1.009 pessoas ainda vinham sendo escravizadas. Atualmente, a Vila dos Palmares concentra um contingente populacional maior que as demais áreas e, consequentemente, mais problemas de todos os vieses. Lá é registrado maior índice de desemprego e, consequentemente, carências de todas as ordens, muito mais gritantes, ambiente que favorece, enormemente, a existência da violência. Muribeca é corriqueiramente notícia nos cadernos policiais. Mais recentemente, um outro projeto, sobre medicina natural, ganhou visibilidade na localidade, pois está sob ameaça de ser privatizado pela prefeitura de Jaboatão dos Guararapes.
[6] 5ª Mostra Pajeú de Cinema, 15 de maio de 2019. Programa 3: A memória é uma ilha de edição. Mostra de Longas: Mateus (PE, 2018, 72’), de Déa Ferraz*
[7] A lei nº 11.645, de 10 de março de 2008, altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. No primeiro inciso do artigo primeiro, a lei assinala que o conteúdo programático “incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.”
[8] Foi a segunda vez em que entrei em contato direto com o cavalo marinho, em Muribeca dos Guararapes, pois a primeira, havia sido na Casa da Rabeca, na Cidade Tabajara em Olinda, em uma das tradicionais festas do Dia de Santo Reis. Para chegar até o Estrela de Ouro naquele dia, tomei ônibus, metrôs, caminhadas, microônibus: uma atribulada saga de transportes públicos de preço alto e qualidade duvidosa desde a cidade de Camaragibe, na Zona Oeste da Região Metropolitana no Recife até o município de Jaboatão dos Guararapes, onde se situa a Vila dos Palmares, também conhecida como Muribeca Rua. Tudo isso porque, ao ser convidada pelo site 4 Parede a escrever esta crítica, observei a programação do Sesc Aldeia Yapoatan que o editor me recomendou, e escolhi a atração que merecia todo o destaque, a partir de meu ponto de vista enquanto cidadã cultural: o Cavalo Marinho Estrela de Ouro. E assim, mediante a falta de maiores detalhes de como chegar até a igreja de N. S. do Rosário dos Homens Pretos, chegamos na metade do espetáculo.
[9] A circulação nacional do Cavalo Marinho Estrela de Ouro no Festival Palco Giratório passou pelos seguintes estados: BA, ES, CE, PI, MT, RJ, MG, DF, AM, SC, SP, RO, PE, RN e PB.
[10] Na execução do projeto cultural No Passo e no Compasso do Cavalo Marinho, com o incentivo do Funcultura, do Governo do Estado de Pernambuco, o Estrela de Ouro partiu do município de Condado para Tracunhaém, na zona da mata norte; depois foi para Caruaru, no agreste central de Pernambuco e Limoeiro, no agreste setentrional; passando por fim em Serra Talhada, no sertão do Pajeú, e no Alto José Bonifácio, na zona norte do Recife.
[11] Conheci o professor Érico José pessoalmente, no Cine Teatro Bianor Mendonça Monteiro, ministrando a sua oficina no 1º Encontro das Artes Cênicas de Camaragibe, na Vila da Fábrica em 2017.
[12] Código Criminal do Império. Parte Quarta – Dos Crimes policiais. Capítulo I. Ofensas da Religião moral e bons Costumes. Art. 280 – Praticar qualquer ação, que na opinião pública seja considerada como evidentemente ofensiva da moral, e bons costumes; sendo em lugar público. Penas – de prisão por dez a quarenta dias; e de multa correspondente à metade do tempo. Capítulo IV. Vadios e Mendigos. Art. 295. Não tomar qualquer pessoa uma ocupação honesta e útil, de que possa subsistir, depois de advertido pelo Juíz de Paz, não tendo renda suficiente. Penas – de prisão com trabalho de oito a vinte e quatro dias. apítulo V. Uso de armas de defesas. Art. 297. Usar de armas ofensivas, que forem proibidas. Penas – de prisão por quinze a sessenta dias, e de multa correspondente a metade do tempo, além da perda das armas.
[13] MARQUES, Carlos Bittencourt Leite. “Brinquedo, luta, arruaça”: o cotidiano da capoeira no Recife de 1880 a 1911. 2012.
[14] ALMA PRETA. Mortes em Paraisópolis: polícia usa as drogas como desculpa para reprimir negros e pobres. Disponível AQUI. Acesso em: 3 dez. 2019.
[15] Subgênero musical do Sertanejo, e que tem como um de seus principais expoentes o cantor Wesley Safadão, que chegou a faturar R$ 1 milhão em um único show.
[16] G1. PMs interrompem ensaio de maracatu em Matinhos e encaminham três integrantes de grupo à delegacia; VÍDEO. Disponível AQUI. Acesso em: 18 fev. 2020.
[17] MARCO ZERO CONTEÚDO. Racismo Policial Reprime encontro de passinhos e já fez a primeira vítima. Disponível AQUI. Acesso em: 3 dez. 2019.
[18] PORTAL FOLHA PE. Jovem é morto durante ação da PM em baile de brega-funk na Zona Sul. Disponível AQUI. Acesso em: 10 fev. 2020.l
[19] MARCO ZERO CONTEÚDO. Terça Negra: em ação racista, Guarda Municipal do Recife atira em meio à multidão. Disponível AQUI. Acesso em: 10 fev. 2020.
[20] PORTAL LEIA JÁ. Projeto quer proibir ‘passinho’ nas escolas de Pernambuco. Disponível AQUI. Acesso em 18 fev. 2020.
[21] PORTAL LEIA JÁ. MCs fazem música contra PL que quer acabar com ‘passinho’. Disponível AQUI. Acesso em: 18 fev. 2020.
[22] ROSE, R. S. The Unpast: a violência das elites e o controle social no Brasil de 1954 a 200 / R. S. Rose; versão em português: Richard Boike. – Recife: Fundação Joaquim Nabuco. Editora Massangana, 2010.
[23] Em dado momento, a espingarda do Soldado da Guarita encosta na bunda de Mateus e Bastião. Aliás, a performance de Catirina em relação a Mateus e Bastião, como apresentada neste texto, possui conotações bastante sexuais. A Catirina, ou Catita, é uma figura bem fogosa no Cavalo Marinho. A sexualidade e a criação andam lado a lado, faz parte da vida afinal.
[24] JORNAL DO COMMERCIO. O Pátio desolado. Disponível AQUI. Acesso em: 18 fev. 2020.
[25] DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Prefeitura do Recife discute novos usos do Pátio de São Pedro. Disponível AQUI. Acesso em: 18 fev. 2020.
[26] BRUSANTIN, Beatriz de Miranda. Capitães e Mateus: relações sociais e as culturas festivas e de luta dos trabalhadores dos engenhos da mata norte de Pernambuco (comarca de Nazareth – 1870 – 1888) / Beatriz de Miranda Brusantin. – – Campinas, SP : [s.n.], 2011.
[27] MEDEIROS, Roseana Borges de. Maracatu Rural. Luta de classes ou espetáculo?/ Roseana Borges de Medeiros. – Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 2005.
[28] TV VIVA (YouTube). Cavalo Marinho Estrela de Ouro. Disponível AQUI. Acesso em: 4 dez. 2019.
[29] TV VIVA (YouTube). Galeras – 1993. Disponível AQUI. Acesso em: 4 dez. 2019.
[30] GELEDÉS. O lento processo da abolição da escravidão no Brasil. Disponível AQUI. Acesso em: 11 fev. 2020.
[31] KONDZILLA. A estileira do bregafunk com Shevchenko e Elloco. Disponível AQUI. Acesso em: 18 fev. 2020.
[32] BLOG AFOITAS. Mãe Beth de Oxum não anda só. Disponível AQUI. Acesso em: 28 nov. 2019.
[33] LEIA JÁ. Evangélicos tocam maracatu e fazem culto no Galo. Disponível AQUI. Acesso em: 18 fev. 2020.