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Home›.Tudo›Crítica – Arreia | Processualidades e reencantamentos

Crítica – Arreia | Processualidades e reencantamentos

By 4 Parede
3 de maio de 2022
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Imagem colorida de um quintal com chão de terra. Nele, estão duas mulheres com feições indígenas, Iris e Iara Campos. Elas estão ajoelhadas e erguem os dois braços ao lado do corpo.
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Imagem – Júlio Morais | #ADnoTextoAlternativo #4ParedeParaTodes

por Lorenna Rocha
Historiadora (UFPE), pesquisadora e crítica cultural

Sob a luz do entardecer, num quintal de chão de terra batida, ao som de atabaques, caracaxás e gaitas, Iris Campos e Iara Campos movimentam-se ao encontro do Caboclinho 7 Flechas do Recife, em memória de Zé Alfaiate, no espetáculo Arreia. Concebido durante a pandemia e dirigido por Paulinho 7 Flechas, o projeto teve seu arquivo audiovisual exibido recentemente na 3ª PretAção – Mostra de Mulheres Pretas de Pernambuco, atividade coordenada por Agrinez Melo e Naná Sodré, atrizes do grupo O Poste.

Não são as performers que vemos de imediato no quadro inicial do espetáculo Arreia: fotografias de integrantes e de algumas apresentações do Caboclinho 7 Flechas do Recife são exibidas por meio de um jogo simples de colocar e retirar as imagens da frente da lente da câmera. A transição entre a memória fotográfica para o início da movência de Iris Campos e Iara Campos se dá com a cobertura total, por meio de uma das fotografias, do campo de visão da câmera, onde até então nos fazia ver o terreno da casa onde estão.

Ao desvelar totalmente o quadro, revela-se a presença de Iris, que olha atentamente para as espectadoras através do aparato técnico. A performer caminha lentamente para atrás. Num jogo óptico, somos enganadas de haver ali apenas uma das brincantes. A duplicação corporal, a cisão entre os dois corpos-presenças, se dá dentro da imagem, dando início ao rito-performance-espetáculo. As ações desenham movimentos pendulares, de transferência de peso entre as partes dos corpos, que começam a experimentas as primeiras manobras. A divisão da imagem-corpo também parece demarcar as singularidades dessas mulheres que tanto se parecem fisicamente: uma separação que leva em si certo desejo de distinção, não para reforçar individualidades, mas para demarcar as diferenças e nuances que são parte de cada uma das performers.

Há um investimento gestual nos primeiros momentos da performance. Após a separação das presenças de Iris e Iara, a dupla passa a desenhar com suas próprias mãos, uma na outra, formatos de flechas, cocar e penas, que evocam o imaginário e as imagens da pajelança, tracejando a relação entre aquelas que dançam e o brinquedo popular que as engaja – o Caboclinho 7 Flechas do Recife. A relação estabelecida por meio dos gestos mobiliza certa troca energética entre as irmãs, que voltam a dividir os palcos após longos anos de suas trajetórias artísticas. Ainda que invistam em coreografias simétricas, as quais são um forte registro dessa expressão popular, não há necessariamente espelhamento entre Iris e Iara, mas, sim, comunicação e conexão.

Imagem colorida de um quintal com chão de terra. Ao fundo, uma árvore. Diante dela, vemos Iara, uma mulher com feições indígenas e cabelos curtos olha diretamente para nós. Ela usa um macacão preto. Ao redor dela, aparecem quatro pares de braços, que fazem posições diferentes e em simetria.

Espetáculo ‘Arreia’ | Imagem – Júlio Morais | #ADnoTextoAlternativo

Em grande parte do tempo em cena, Iris e Iara não estão trajadas com adereços dos caboclinhos, como o cocar de pena, atacas, tangas ou munhecas, que fazem referência à cultura indígena. Com roupas neutras, de cores da terra, elas trafegam pelo ritmo das batidas dos atabaques e dos toques como quem dá os primeiros passos, reconhecendo os movimentos, a espacialidade, a natureza e a encantaria que envolvem o brinquedo pernambucano.

O primeiro elemento cênico (e percussivo) utilizado é a preaca, que marca o estado de investigação da dupla. Movendo-se de modo mais atento pelo espaço, elas direcionam o caminho para a brincadeira. Fazendo referência corporal às guerreiras das matas, a flecha lançada por Iara mobiliza a câmera para o sentido contrário e para cima, onde nos deparamos com um pé de árvore sinuoso. Após um giro em seu próprio eixo, a imagem nos revela uma oferenda assentada em um prato de barro, onde há muitas frutas, junto a uma garrafa de mel e aos adereços do caboclinho, organizados todos juntos formando um pequeno altar. Iris e Iara reaparecem na tela, mas continuam sem trocar suas vestimentas. Num primeiro momento, o encantamento e a retomada se dá quase que exclusivamente pelo movimento, sem o reforço simbólico de elementos estéticos que proporcionassem associações direta em relação ao que está sendo visto e mobilizado através da dança. As sonoridades do ritmo do caboclinho também marcam e fomentam as ações da dupla, que investe no exercício da imaginação pela recusa da associação direta aos elementos do grupo que estão a homenagear.

Enquanto salteiam, recuam, avançam e rodopiam, como quem brinca e luta ao mesmo tempo, Iris e Iara parecem fazer um pedido de licença aos encantados e brincantes dentro da própria cena, fazendo da performance o próprio ritual, ativando a dimensão do segredo e do sagrado a cada manobra executada e improvisada. Tal investimento produz certo avolumamento corporal (em sua gradação, as performers passam a ganhar mais força, agilidade e complexidade em seus movimentos) e simbólico (a partir da chegada de novos elementos cênicos-sagrados). Nesse percurso, a câmera acompanha todos os passos da dupla, em plano-sequência.

Um conjunto de colar de contas é vestido pelas performers, disparando uma presença mais solta, em que elas estão com os corpos mais desconjuntados das manobras que compõem as coreografias do caboclinho. Enquanto brincam e trupicam, em movimentos circulares, a música estende o tempo marcado pelos instrumentos musicais, com ecos que nos lembram certo estado de transe. É nesse momento que há uma transição no desenho corporal de Iris, que passa a mover-se como um animal-encantado, uma cobra, alusionada na loa cantada por Iara, mas, ainda, por uma jiboia, planta que envolve o corpo da brincante, que rasteja, enrola-se e desenrola-se no chão do quintal. Ainda, é no canto de Iara que marca-se a relação com a Jurema Sagrada, sendo não apenas um reforço da espiritualidade, como a expressão simultânea da cultura popular e da religiosidade. 

Imagem colorida de um quintal com chão de terra. Em primeiro plano, vemos Iris, uma mulher com feições indígenas. Ela usa uma blusa laranja e uma calça preta e está agachada, olhando para nós. Ao fundo, está Iara, sua irmã gêmea, que está acocorada, também olhando para nós.

Espetáculo ‘Arreia’ | Imagem – Julio Morais | #ADnoTextoAlternativo

Savará, seu 7 Flechas! A dupla retorna a sua movência, com o corpo cada vez mais expansivo. A partir da visão lateral da árvore, acompanhamos a sequência de imagens mais intensa da performance: do alto do pé de planta, Iris lança guloseimas enquanto Iara dança a sua frente, cortando e recortando o espaço com um jogo de pernas e pés que pisam firme no solo; mel é despejado nas mãos de Iara e prontamente o líquido é levado por ela à boca; a oferenda aos encantados é entregue e Iara aciona um estado de transe. Isso não se dá como uma representação figurativa de um “corpo de terreiro”, mas pela entrega ao próprio movimento, à conexão com o invisível e com o rito que vai sendo conduzido pela dupla de maneira cautelosa, onde as fronteiras entre brincadeira e religião quase inexistem, assim como nas apresentações coletivas dos caboclinhos pelas ruas da Região Metropolitana do Recife e da Zona da Mata. 

Após atingirem certa exaustão em sua dança, Iris e Iara recuam até o pequeno altar onde estão os adereços e os figurinos do caboclinho, e se vestem, ajudando uma a outra. O símbolo de conexão e comunicação, dessa relação de retorno aos palcos enquanto irmãs (gêmeas!), também acende uma sensação de abertura de caminhos que, de algum modo, parece autorizar, após todo esse percurso, que elas se trajem como as integrantes do Caboclinho 7 Flechas do Recife. E é nesse momento da jornada que a performance decreta seu próprio fim, com a loa de guerra, em despedida, cantada de forma alternada pela dupla. 

Preacas em mãos e com vestes da cabocaria, estabelecer o final com a cena “montada” aparece como uma questão interessante para pensar o gesto do rito-performance-espetáculo. Aposto que há aqui, no trabalho de Iris e Iara, um desejo de conexão e rememoração, assim como um afastamento de folclorismos exotizantes e certo cuidado para não fazer do símbolo e da brincadeira dos caboclinhos uma excentricidade. 

Essa atenção fala do modo como ambas escolheram compor e decompor seu percurso estético, mas desloca-se, sobretudo, para o olhar das espectadoras, uma espécie de pergunta a si mesma, em relação ao jeito como nos relacionamos com as imagens criadas pela dupla, e como, se articuladas sem tal cuidado, elas poderiam figurar, num primeiro contato com os nossos sentidos, como “apropriação” ou “caricatura”. É justamente por investirem na processualidade e na delicadeza das formas de reencantar cenicamente o universo em que mergulharam, que Arreia ganha camadas complexas em seu desejo de sensibilizar, fazendo da experiência uma instigante homenagem ao Caboclinho 7 Flechas do Recife.

TagsAgrinez MeloArreiaCaboclinho 7 Flechas do RecifeCultura indígenaGrupo O PosteIara CamposIris CamposNaná SodréPaulinho 7 FlechasPretAção - Mostra de Mulheres Pretas de PernambucoZé Alfaiate
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