“Acredite! Aposte! Compartilhe!” – Entrevista – Companhia Circo Godot
E as campanhas de financiamento de diversas iniciativas na arte e na cultura vem crescendo e se diversificando cada vez mais. Uma delas é a viagem de intercâmbio da Companhia Circo Godot, que passará três meses na Europa com a Comuna Teatro de Pesquisa. O grupo foi aprovado no Edital de Intercâmbio e Difusão Cultural do Ministério da Cultura e embarcará em breve e, para conseguir mais fundos para essa jornada, montaram uma campanha, que pode ser acessada AQUI.
Fundada há cinco anos no Recife por artistas brasileiros e italianos com o fito de investigar técnicas fronteiriças de Teatro, Circo e Formas Animadas, a Companhia Circo Godot de Teatro vem chamando a atenção de crítica e público para a qualidade cênica do seu trabalho, resultado de pesquisa e dedicação de seus integrantes. Com três obras em seu repertório (Circo Godot, Besteiras: As Aventuras de um Giullare Moderno e Le Petit: Grandezas do Ser), além da criação artística o grupo desenvolve projetos de iniciação às artes cênicas e desde o início de suas atividades tem seus espetáculos integrando a programação de festas, feiras e festivais na Grécia, Tunísia, Croácia, Itália e Brasil.
A cada trabalho o grupo procura se reinventar e dar novos passos em busca de territórios desconhecidos que coloquem as certezas à prova, pois acredita que a renovação, o apuro estético e a formação só são possíveis graças ao trabalho continuado e ao intercâmbio de saberes. Para explicar melhor as motivações do intercâmbio e como podemos contribuir, a Companhia bateu um papo com nosso editor-chefe, Márcio Andrade. Confira:
Como surgiu a oportunidade de fazer este intercâmbio com a Comuna Teatro de Pesquisa (Lisboa/PT) e como vêm sendo os trâmites para essa jornada de mudança?
Ano passado enviamos um projeto para o Edital de Intercâmbio do MinC. Pensamos que, enquanto grupo de pesquisa, era hora de tentar dar uma guinada e aprender um pouco lá fora, respirar outros ares, reavaliar o próprio percurso, planejar outros voos. Aí, pensamos n’A COMUNA TEATRO DE PESQUISA.
Em duas oportunidades, nos encontramos com o João Mota, principal diretor do grupo lusitano. Andrezza Alves inclusive participou como atriz em um espetáculo dirigido por ele há alguns anos. Bom, o fato é que o modo de trabalhar do João Mota é inspirador. O trabalho dele se pauta em jogos com o espaço e tempo, que é uma forma de manter o jogador em estado de alerta, vivo, presente. Isso nos interessa. Além disso, também estaremos de olho na cadeia produtiva da COMUNA, nas formas de produzir e se manter firme há 43 anos, apesar das dificuldades econômicas por que passa e passou Portugal.
Então, voltando à vaca fria, enviamos o projeto para o MinC e, para nossa surpresa, fomos agraciados. A questão é que, como o próprio edital diz não se trata de um programa para financiamento total do projeto, a verba é apenas um suporte, uma ajuda de custos, então não é muita grana. Mas quando fizemos o orçamento para decidir se nos inscreveríamos (isso, lá em novembro) o valor cobriria os gastos todos, então nos inscrevemos. Só que o mundo Gira (o mundo é uma bola) e alteração da nossa viagem para um período de alta estação, a flutuação do câmbio, o Euro respondendo com elevação ao invés de queda à Crise Européia fizeram com que o dinheiro que antes era sólido, se desmanchasse no ar e serão três meses de residência com a gente tendo de pagar estadia (em dois deles), alimentação, transporte, os gastos com a pesquisa e tudo mais. Ai é que veio a ideia da Campanha, é uma tentativa de dar força a esta aventura.
Quais as contribuições que vocês esperam deste processo de residência artística?
A principio, tentaremos trazer o próprio João Mota, para uma oficina aberta ao público interessado em Recife. Mas isso vai depender de muita coisa, inclusive da agenda dele, que é uma pessoa muito, muito solicitada. A nossa contrapartida, entretanto, se manterá: dar oficina em Recife, alguns encontros com produtores culturais sobre a experiência de estudar modos de fazer e produzir teatro fora do país e uma demonstração de trabalho retirada da experiência com a Comuna.
É importante também dizer que esta residência em Lisboa é também para estudarmos sobre o período medieval – esta temática faz parte de nossos planos futuros para a construção de um trabalho teatral, mas que ainda está na garatuja, à qual pretendemos dar melhores contornos e colorido. E por isso, também, a viagem, porque o fato é que quando você entende a pesquisa como elemento sine qua non para a construção do seu trabalho, você não consegue criar sem antes entrar em contato com a coisa. Sem sentir o cheiro, o gosto, sem captar a memória… E nesse momento de transformações pelo qual estamos passando não nos parece suficiente criar um novo trabalho apenas com a combinação entre o que o livro diz e o material levantado na sala de ensaio. Precisamos da Experiência VIVA!
Então, não dá para sonhar com isso sem tentar ir para o velho mundo, para fazer uma pesquisa mais corpo a corpo com os lugares, as pessoas, os museus, as bibliotecas. A viagem tem a finalidade de aprimoramento neste sentido também.
Como as pessoas podem contribuir com a campanha que vocês estão realizando?
Há algumas formas que nós pensamos, todas importantes na mesma medida. Primeiro nós destinamos a conta de um componente do grupo onde podem ser feitas doações em dinheiro. Em geral, as pessoas costumam pensar que só estarão ajudando com a doação e se o valor for alto. Não é bem assim. Qualquer valor é bem vindo e ajudará, de verdade. Estamos criando um evento no facebook chamado “R$ 1,00 em troca de um sonho!”, justamente para mostrar a importância de toda e qualquer contribuição, pois calculamos que, se cada pessoa que temos em nossas redes de contatos (apenas no facebook) nos der R$1,00. já teremos dinheiro suficiente para um (01) mês de despesas. Então este é um alerta importante. Qualquer quantia será de grande valor.
Outra forma de ajudar é compartilhando em suas redes de contatos alguma de nossas chamadas para a campanha. Diariamente, temos feito uma contagem regressiva e postado fotos que dialogam com essa residência e estamos veiculando várias chamadas no facebook, na página da Companhia e em nossos perfis, solicitando que as pessoas também divulguem em suas redes de contatos, pois acreditamos que tem sempre alguém interessado em colaborar, mesmo sem conhecer as pessoas envolvidas nos projeto. Essa crença está sendo comprovada no dia a dia da campanha, pois de fato recebemos doações de pessoas que não conhecemos, que nunca assistiram a um trabalho nosso e sequer sabemos como elas tiveram contato com nossa campanha. Então, esse compartilhamento realmente é necessário e importante. Temos reforçado esse pedido nas publicações, com o slogan “Acredite! Aposte! Compartilhe!”
Outra forma de contribuir, dentre as que previmos, é também nos colocando em contato com as redes de colaboradores de cada um. Isso porque teremos gastos com hospedagem, alimentação, transporte, telefonia, internet. E quando você se vê na iminência de estar longe de casa, da família, dos amigos já conhecidos, da sua rede de parceiros, fica sempre a dúvida se dará tudo certo e se você vai conseguir se virar bem, ainda mais quando o dinheiro é curto, principalmente em tempos de crise financeira internacional. Então, já solicitamos a alguns amigos mais próximos, fica estendido o convite agora aos leitores, que nos coloquem em contato com pessoas amigas residentes em Portugal, para que possamos compartilhar, além de conhecimento – porque estamos indo investigar também pessoas, festejos, novas histórias, outras experiências culturais, e tudo isso só se consolida na vivência com outras pessoas– também questões logísticas, através de hospedagem colaborativa, transporte compartilhado etc. Claro que estamos partindo do princípio de uma vivência colaborativa mesmo, em todos os aspectos possíveis. Estamos dispostos às trocas mútuas e apostando que será uma experiência transformadora em nossas vidas.
Foram estas as formas que nós previmos de apoio, mas se alguém que está lendo tiver alguma outra ideia, estamos dispostos a ouvir as sugestões, afinal, esta é uma experiência nova para nós três. É a primeira vez que estaremos fora do país para estudar; é nossa primeira residência artística; é o nosso primeiro fomento exclusivo para pesquisa.