Depois de quase dez anos, Luzia no Caminho das Águas voltou aos palcos do Recife no início de outubro para comemorar quinze anos do Grupo Engenho de Teatro. O texto de Alexsandro Souto Maior (Premio Funarte de Dramaturgia, 2005), que também divide a direção do espetáculo com Eron Villar, mergulhou no universo nordestino, explorando sua simplicidade poética, sob a ótica de uma menina que vagueia pelo sertão em busca de água para sua margarida, vivenciando cenas fabulares que mostram para Luzia valores até então desconhecidos.

Para falar um pouco da retomada desse processo após quase dez anos, nosso editor-chefe, Márcio Andrade, conversou com o dramaturgo Alexsandro Souto Maior. Confiram:

De onde veio a demanda por retomar o espetáculo quase dez anos após sua temporada inicial? 

Luzia no caminho das águas teve uma vida muito curta. Estreamos em 2006, no ano seguinte, o grupo diminuiu o seu ritmo e os integrantes se voltaram mais para projetos pessoais. Isso inviabilizou a continuidade da peça.  Luzia é o único espetáculo do Grupo Engenho que é voltado para crianças. Luzia é o nosso xodó. Todos sempre tiveram o desejo de retomar o espetáculo. Como tivemos vida curta com ele, chegou a hora de nos empenharmos para Luzia ter uma vida mais longa. Se depender da vontade de todo elenco, isso ocorrerá.

Que adaptações foram necessárias para essa nova temporada?

Depois de tanto tempo, o nosso olhar, naturalmente, é outro. Há mudanças na dramaturgia, no figurino e no desenho de cena. Luzia ganhou uma roupagem mais épica. Ela agora é mais heroína. O personagem do urubu se duplicou. Temos dois urubus e um texto mais dinâmico e cômico.  O desenho de cena comunga muito mais com o nosso piso (rosa-dos-ventos), com o cenário. Luciano Pontes fez suas leituras e, também, acrescentou, significativamente, no vestir da peça. O pensar do fazer teatral do Engenho sempre foi muito inquieto. Estamos sempre em construção, mudamos quando necessário.

O que vocês acreditam que “Luzia no Caminho das Águas” comunica para as crianças?

Estamos contanto uma história que dialoga com a nossa cultura regional e universal. As crianças podem se identificar com arquétipos como o sábio, tio jabuti, com amigos leais, Sabiá e Pedro e com a própria protagonista, Luzia. Há, na peça, poesia, música ao vivo, boneco, personagem de perna de pau, seres fantásticos que se harmonizam, discutindo esperança, lealdade, fé, valores e mais valores não só para serem contemplados, mas para serem refletidos.