Crítica – Antígona | Ao invés de Creonte, poderíamos chamá-lo de…
Imagem – Autor(a) Desconhecido(a)
Por Halberys Morais de Holanda
Ator, produtor cultural e graduando da Licenciatura em História (UPE)
A XII Semana de Cênicas (UFPE) homenageou este ano a Companhia Fiandeiros de Teatro. Na programação, eles apresentaram Antígona, espetáculo de conclusão da turma da Escola Profissionalizante em Teatro de 2018. A Fiandeiros é conhecida por ofertar cursos formativos em Teatro para públicos de diversas faixas etárias. A escolha para homenageá-la, pela curadoria do evento, é consequência do reconhecimento de muito trabalho e dedicação do grupo, ao longo de seus quinze anos de existência, elaborando montagens e formando atores e atrizes na cidade do Recife.
Antígona tem onze pessoas em seu elenco, que trocam de personagem entre si, e estão em cena entre bancos e estepes, os quais formam o cenário da peça. A apresentação, no dia 07 de novembro, ocorreu sem aparatos técnicos de luz. A iluminação, que pude ver em outro momento, apresentava um tom fúnebre e outros detalhes, que, na ocasião, tivera de ser realizada pelo próprio corpo dos atores e atrizes, os quais tiveram que delinear os desenhos idealizados inicialmente pelo plano de luz de apresentações na caixa cênica. A Sala de Dança (UFPE), local onde ocorrera o espetáculo, além de não provir de equipamentos de luz, não tinha uma acústica boa. Entretanto, isso aparentemente não prejudicou diretamente o espetáculo.
No entanto, se pensarmos na encenação, a proposta dos atores e atrizes não saírem de cena, me parece que trouxe um pouco de dificuldade para o elenco. Cada movimentação é capturada pelo público, fato que pode gerar uma sensação de insegurança e desfocar a performance e atenção nas cenas em curso. O desafio de não deixar o corpo “esfriar”, sobretudo para os personagens que permanecem sentados durante boa parte do espetáculo, também pode ter sido motivo de tal sentimento, que parecia-me visível durante a apresentação. Dessa forma, a encenação parecia tirá-los da zona de conforto.
Na peça, é possível ver questões como empoderamento feminino, considerando a ação de uma mulher, Antígona, que é capaz de enfrentar seu próprio Rei, Creonte, para realizar o sepultamento de seu irmão, Polinices, seguindo as tradições gregas referentes aos rituais fúnebres. Antígona não tem medo das consequências dos seus atos. Possui bastante inteligência e expertise. A ideia de justiça anda com ela. O papel foi interpretado por Maria Eduarda Pepe, que teve o desafio de dar conta do texto da obra, que teve seus diálogos originais preservados. Durante o transcorrer das cenas, os olhos e o corpo de Eduarda Pepe falavam por si. A atriz encontrou uma Antígona potente e majestosa, com seu figurino em tons de preto e grafite que dão uma aura destemida para a personagem.
Já sobre as figuras masculinas, a figura de Creonte chama atenção. Ele é um tirano que não poupa esforços para conseguir o que deseja. Para Antígona, Creonte, interpretado por Layon Figueroa, diz que só os homens são quem tem voz, desmerecendo todas as questões discutidas pela personagem, apenas por ela ser mulher. O ser tirano é exposto e dialoga com o atual cenário político brasileiro, que, se seu nome não fosse Creonte, poderia ser… Uma cena emblemática da montagem é quando Creonte vai atrás de seu filho, Hémon, para restabelecer os laços e o colocar como comandante da guerra, pois seu outro filho morreu em combate. Mas, na realidade, ele descobre que seu filho cometeu suicídio ao ver Antígona morta, após ter sido levada ao exílio pelo seu próprio pai. Sob o corpo de Hémon é jogada a bandeira do Brasil e trechos da Constituição Brasileira são ditos. Nesse momento, as relações com a política brasileira se tornam mais explícitas. Sim, o personagem principal desse enredo poderia mesmo ser chamado de… Jair Messias Bolsonaro.