Oficina “Um Primeiro Olhar para o Figurino Teatral” abre inscrições
De 01 a 27 de junho, a oficina Um Primeiro Olhar para o Figurino Teatral, ministrado pela atriz e arte-educadora Agrinez Melo, uma das coordenadoras do grupo teatral O Poste, contemplará a origem da indumentária e suas influências no universo do teatro e da moda; Anatomia Corporal e Criação de Croquis; Estudos de Cores e Harmonia na Vestimenta; Criação de Conceito de figurino etc.
Com carga horária de 60h, as aulas serão ministradas às segundas, quartas e sextas, das 13h às 17h, no Espaço O Poste (que fica na Rua da Aurora, 529), e também contemplarão pessoas com deficiência visual e auditiva. Voltado a pessoas que atuam com teatro, figurino e estudantes da área e interessados em vivenciar o universo da indumentária, o curso faz parte de uma pesquisa continua sobre figurino para teatro e sua origem ancestral e foi pensado nessa configuração devido à escassez de pessoal de figurino no segmento de teatro e visa ampliar o conhecimento deste elemento de encenação.
Contando com apenas 25 vagas, as inscrições são gratuitas e até o dia 15 de maio – através de solicitação de ficha de inscrição pelo e-mail agrinez@gmail.com – e a divulgação do resultado com a lista dos participantes no dia 25.05.
Agrinez conversou um pouco com nosso editor-chefe, Márcio Andrade, sobre mais detalhes a respeito das suas motivações em conceber o curso e realizá-lo.
Agrinez, de onde partiu seu interesse em trabalhar com figurino para teatro? Como ele alimenta seu processo criativo como atriz?
Fui criada no meio de retalhos e tecidos. Minha mãe aprendeu a costurar sozinha, seu foco era ter as filhas bem vestidas e economizar dinheiro com roupas. Éramos três filhas e o dinheiro era pouco para tanta demanda. Ela fazia tudo isso contando histórias e dançando – e com isso fui crescendo: criando roupas e, com elas, criando personagens que interpretava na sala de casa, ou na cozinha – com minha vó batendo pilão e eu dançando enrolada em lençois (risos). As roupas costuradas por minha mãe eram únicas: geralmente, eu tinha a ideia de uma roupa, rabiscava no papel (nunca fui boa desenhista) e minha mae costurava. Eu criava roupas de bonecas e, mais tarde, comecei a costurar na mão os figurinos de meus espetáculos na escola.
Depois de um tempo, comecei a trabalhar como modelo e, na passarela, sempre questionava o conceito das roupas que vestia. Entrei na Licenciatura em Artes Cênicas na UFPE em 2000 e, lá, paguei uma cadeira de figurino e descobri o universo da conceituação de um figurino de fato. E me apaixonei, porque o figurino anda junto com a criação de meus personagens. Quando penso no personagem, penso em volumes, cores, textura. De onde ele vem, quem são seus ancestrais e o que vestiam… Tudo isso. Costumo dizer que as histórias andam retalhadas, rendadas, bordadas, trançadas e tramadas em mim no momento que estou criando. Quando atuo, visto o personagem, de sons, cores, volumes, música e sensações. Não sei se é bom ou ruim, mas adoro pesquisar, a relação é imediata e os verbos “vestir”, “costurar” aparecem junto (risos). Digo, sem muitas delongas, que amo e acredito muito no que faço. Atuar e vestir são meus tesouros.
A realização de oficinas destas áreas consideradas mais “técnicas” é menos comum em comparação a formações de atuação e direção, por exemplo. É possível falar de uma escassez de pessoas que investe na área de figurino aqui em Pernambuco?
É escasso, sim. Tiro por mim, que queria fazer oficinas e cursos na área e não tinha nada. Na verdade, só fiz uma oficina de figurino depois que saí da UFPE. Foi aqui em Recife, com Raqueo Theo, que mora no Rio e veio aqui ministrar uma oficina. Depois disso, nada mais. Cheguei a fazer um curso de corte e costura, mas nada era voltado para área teatral. Bom, já que não tinha, resolvi eu mesma criar um (risos). Também não é fácil a abertura na cidade para cursos técnicos: lembro que passei dois anos enviando projetos para prefeituras, governo, escolas, teatros, ONGs, e nada. Até que, bem desacreditada, enviei um e-mail para a Galiana Brasil (Gestora Cultural do Sesc Santo Amaro), externando minha vontade em oferecer a oficina no Palco Giratório de 2014. Ela pediu a oficina para analisar e abraçou a causa. Então, lá fui eu, feliz da vida e saltitante, realizar minha primeira oficina de figurino (risos). Lembro que chorava e ria quando recebi o e-mail de Galiana confirmando minha participação. Depois, veio o a realização da oficina em Garanhuns e foi outra alegria: gente que não sabia nem o que era teatro, tomar conhecimento através do figurino, criar e confeccionar um e conceituá-lo dentro de uma estética. Tempos depois, com a inauguração do Espaço O Poste, dei uma outra oficina por conta própria e alunos da oficina já criaram figurinos para espetáculos profissionais. Me animo quando vejo nome de figurinistas novos em espetáculos: às vezes, vou assistir só para ver o andamento de criação desses novos artistas. Nas oficinas que ministrei, me deparei com muita gente jovem e boa e com mesmo discurso velho “falta mais oficinas desse tipo”. Resolvi unir a fome com a vontade de comer: eu, com vontade de transmitir o que descubro com minhas pesquisas com tecidos e teatro, e gente que quer vivenciar isso.
Como o trabalho como educadora alimenta seu processo criativo na área de figurinos?
Não sei se vou responder de forma direta essa pergunta (risos). O que acontece comigo, na verdade, é a vontade de fazer e receber, percebendo como o individuo absorve isso. Como uma troca: eu falo o que conheço, explico como fazer e, assim, descubro muitas outras formas. Os participantes das aulas que ministro me mostram formas diferentes de ensinar e de fazer uma mesma peça ou um novo conceito para determinado personagem e por aí vai. É nessa perspectiva que uno educação e meu processo criativo: na ótica da troca criativa. O ser humano é tão múltiplo e eu me vejo estimulada por essa gama de criatividade e começo a sistematizar em cima do que recebo e dou.
Para mim, ensinar e criar são duas coisas complexas, mas fáceis de fazer quando se cria uma sistemática para isso e não se cobra para ter resultados mirabolantes, pois vivenciar o processo de como se deu determinado figurino ou criação de personagem é muito mais prazeroso do que ter um resultado final queimando etapas.