Crítica – Retomada | Totem convoca para a guerra
Imagens – Fernando Figueroa
Por Renata Wilner
Doutora em Artes Visuais (UFRJ) e Professora do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV UFPE/UFPB)
Façam soar todos os tambores do Brasil! Evoquem todos os ancestrais!
É preciso retomar trajetos para avançar. É preciso unir a força dos povos aliados e dos Encantados contra a ameaça que cresce e toma o que nos pertence.
Totem convoca para a guerra.
Dança, grito, rito de guerra.
A força do impacto das formas somáticas e extra-somáticas, como explicou a antropóloga Nancy Munn sobre as representações da ordem cosmológica pelo povo walbiri na Austrália, que combinadas e mutuamente correspondentes traduzem e introduzem as dinâmicas cíclicas potencializadas pelo eterno retorno às origens.
Plantas sagradas, cores da terra, águas cristalinas, reino de matas e pedras. Traçando eixos da circularidade e da verticalidade, aldeias terrestres e celestes encontram-se. Para Victor Turner, arte e ritual são rupturas que viram o cotidiano pelo avesso. A transgressão é a condição liminar entre estrutura e anti-estrutura com potência mítica para restabelecer a ordem cósmica harmônica.
Foi a partir da imersão entre os kapinawá, xukuru e pankararu que o Totem buscou aprendizado para alicerçar sua própria tradução e introdução das forças cósmicas de cantos e encantos que vibraram entre a platéia presente. Experiência estética sem distanciamento, plena de vitalidade, aquela que nos invade sem mediação racional porque referenciada em conhecimento ancestral muito profundo.
Encontramos com o mistério que nos habita e saímos renovados desse toré reinventado no mundo profano. Vamos à luta, vamos resistir aguerridos a tudo que não converge no círculo mágico dos afetos poéticos e ameaça destruí-lo. Unidos pelo respeito, vamos nos concentrar, captar e expandir. Retomar a terra e poder que nos pertence.
Isso que fica. A semente. Gratidão ao Totem pelo chamado, gratidão aos povos indígenas pelos ensinamentos e inspiração.