“Luzir é Negro!” inicia temporada no Espaço O Poste
Imagens – Ricardo Maciel
“Eu queria entender como o racismo havia afetado – ou ainda afeta – as minhas relações íntimas, desde os primeiros elos dentro da minha família, até as escolhas e não-escolhas que determinavam meus relacionamentos na fase adulta. Para mim, era importante saber se o fato de ser candomblecista, por exemplo, e externar isto das mais variadas formas (deixar minhas guias de orixás aparentes, assumir isto nas redes sociais, etc.) estava determinando o fato de estar sem ‘namorar’ há mais de dez anos”.
Foi com esta premissa que o ator Marconi Bispo procurou o diretor Rodrigo Dourado para, juntos, darem segmento à pesquisa que o Teatro de Fronteira tem realizado a partir do Biodrama e do Teatro Documental com o solo autobiográfico Luzir é Negro (confira o teaser AQUI). Depois de quatro experiências bem sucedidas (“Olivier e Lili: uma história de amor em 900 frases”- 2012; os solos “Complexo de Cumbuca”, ”Solodiva” e “Na Beira” – 2014-2016), o grupo percebeu a potência de desbravar aspectos da formação do povo brasileiro a partir das histórias e memórias de um homem negro de 39 anos – destes, 21 dedicados ao teatro – cruzando tais elementos com fatos recentes do país, bem como, observando como o negro aparece em diversas dramaturgias (Os Negros – Jean Genet; Arena Conta Zumbi – Guarnieri e Boal; Gota D’água – Chico Buarque e Paulo Pontes) e em outras matrizes documentais: redes sociais, matérias e artigos de jornal, documentos históricos, etc.
Um país em combustão, antigos senhores de escravos transmutados e atuando por intermédio dos seus sucessores e casos de discriminação racial pipocando nas redes sociais nos alertaram para a necessidade de discutir em cena a nossa tão proclamada – e falaciosa – democracia racial. Na pele de um ator que muitos insistem em chamar de ‘moreno’, esta falsa democracia estava, sim, inscrita, marcada. Coube ao grupo fazer surgir – luzir! – estas pequenas dores e algumas vitórias que se sobrepujaram a elas. Luzir é Negro! é o primeiro investimento do Teatro de Fronteira na discussão sobre as questões raciais, embora seja marca do grupo o envolvimento com os sujeitos à margem, os/as que habitam as bordas. Assinala ainda este trabalho a presença de uma banda ao vivo (um guitarrista e um baixista)